Política

Sete distritais do PSD/Norte renomeiam a TAP - deixa de ser “Transportes Aéreos Portugueses” e passa a “Transportadora Aérea da Portela”

Sete distritais do PSD/Norte renomeiam a TAP - deixa de ser “Transportes Aéreos Portugueses” e passa a “Transportadora Aérea da Portela”
JOSE SENA GOULÁO/LUSA

Depois de autarcas e líderes partidários da direita à esquerda terem protestado contra o plano de voos da companhia de bandeira portuguesa, agora são os líderes distritais a entrarem em rota de colisão com a TAP

Sete distritais do PSD/Norte renomeiam a TAP - deixa de ser “Transportes Aéreos Portugueses” e passa a “Transportadora Aérea da Portela”

Isabel Paulo

Jornalista

As comissões políticas distritais do PSD do Porto, de Aveiro, de Braga, de Bragança, de Viana do Castelo, de Vila Real e de Viseu repudiam o plano de rotas da TAP, que titulam “absolutamente atentatório do interesse nacional e lesivo da equidade e da relação custo/benefício, cavando ainda mais fundo o centralismo e discriminando de forma incompreensível as diferentes regiões do país”.

A retoma da atividade da TAP, concentrada quase exclusivamente no aeroporto da Portela - 42 rotas a partir de Lisboa, três do aeroporto do Porto -, é para os líderes sociais-democratas uma provocação a toda a região Norte e uma ameaça séria à coesão territorial nacional. “Este é o maior aeroporto do noroeste peninsular e está sediado numa região responsável por mais de 40% das exportações e por mais de 30% do PIB nacional, servindo mais de 5 milhões de pessoas, desde a região centro à Galiza”, referem em comunicado conjunto os líderes distritais, entre os quais se contam o eurodeputado José Manuel Fernandes e os deputados Alberto Machado (na foto em cima), Salvador Malheiro e Pedro Alves.

Tal como alertaram esta terça-feira os autarcas de Porto, Maia, Viana do Castelo e Vila Real, “se a TAP não responde às necessidades dos aeroportos de Faro, do Funchal, de Ponta Delgada e do Porto deixa de cumprir o seu papel de empresa nacional – companhia de bandeira – e passará a ter um papel meramente regional, podendo inclusive passar a denominar-se ‘Transportadora Aérea da Portela’”, acrescentam ainda os líderes locais Jorge Fidalgo, Fernando Queiroga, e Carlos Morais.

TAP regional não pode apoios do Estado

Para as sete distritais signatárias do manifesto, a postura da TAP compromete definitivamente o desígnio de representatividade nacional e torna claro que “não pode, porque, por opção própria, também não quer, ter os apoios que reclama do Estado”. Sem compromisso de um plano de rotas, com operações frequentes e regulares de cariz nacional, os líderes laranja avançam que a TAP pode dispensar a ajuda financeira do Estado para assegurar a sua sobrevivência como empresa. “Os portugueses não podem continuar a ser contribuintes líquidos de uma empresa que tem por missão servir apenas uma parte do país.”

Os presidentes das sete distritais nortenhas lembram que no debate quinzenal com o primeiro-ministro, a 7 de maio, Rui Rio já tinha antecipado este cenário, “que condenou de forma veemente, defendendo que, para o Estado injetar dinheiro na TAP, esta deveria ter um plano de negócios e vocação nacional”.

Face à decisão da empresa concentrar a sua atividade no aeroporto da Portela, as distritais do PSD signatárias exigem a “imediata inflexão deste rumo e desta estratégia”, reclamando uma solução de retoma que incremente um plano de rotas e voos de forma proporcional ao número de passageiros a partir de todos os aeroportos nacionais.

“De outra forma, consideramos que deve ser reequacionado qualquer plano de resgate ou de participação do Estado na sua administração à custa dos impostos do país. Os portugueses não precisam de pagar por um serviço a que não podem recorrer.” Por outro lado, alertam que se o Governo decidiu reverter a privatização da TAP com uma quota de 50% e um administrador, “onde os privados decidem tudo e o Estado não manda coisa nenhuma”, então o mínimo que o Governo está obrigado a fazer “é exigir que a TAP passe a servir todos os portugueses, sem privilégios e sem exceções”. No comunicado recorda-se que o Governo se prepara para injetar milhões na empresa a pretexto da sua viabilização financeira.

A TAP já veio justificar esta reposição diferenciada de rotas com a falta de procura do aeroporto Francisco Sá Carneiro, argumento que choca de frente com as opções de outras companhias aéreas: para junho, a Lufthansa tem quatro voos por semana para Frankfurt, a Air France tem sete voos por semana para Paris e a KML continuará para Amesterdão. “A Swiss ou a Turkish Airlines querem retomar de imediato os voos diretos de e para o Porto”, advertem as distritais, acrescentando que “o argumento utilizado [pela TAP] é uma mentira pegada”.

“É no mínimo estranho que estas companhias, que operam com inconfessados interesses de ordem exclusivamente comercial, vejam nestas rotas a oportunidade de negócio e a sustentabilidade que a transportadora nacional nega. É por isso absolutamente incompreensível a desconsideração e a desvalorização com que a TAP trata o Porto e a região Norte”, refere o comunicado.

O Partido Socialista já faz um apelo à TAP para “corrigir o plano de rotas aéreas tornado público, tendo em vista corresponder aos legítimos interesses nacionais e regionais em apreço”. “Um aviso, oco de conteúdo, se atentarmos à dissonância entre o que o ministro das Infraestruturas queria fazer e aquilo que o primeiro-ministro não o deixa fazer, como, por exemplo, a nacionalização”, referem os líderes distritais do PSD.

Em comunicado, há quase um mês, o PS/Porto manifestou confiança de que o Governo “contribuirá para uma TAP sem marginalizações regionais e medidas centralistas de desinvestimento”. Para o PSD, esta é uma “profissão de fé, inconsequente, num Governo que, nesta matéria, já nem em si próprio acredita”.

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