O plano de voo da TAP para os próximos meses, que já mereceu diversas críticas pela quantidade reduzida de ligações ao Porto, provocou uma reação ao mais alto nível no PS. O aviso é claro: a decisão da companhia "contraria os valores essenciais" da empresa aérea portuguesa e o plano deve ser alterado.
A declaração, feita por José Luís Carneiro, número dois do PS, foi dura. A TAP deve "corrigir o plano para corresponder aos legítimos interesses nacionais e internacionais em apreço". A decisão da comissão executiva da empresa, argumentou o secretário-geral adjunto do partido, "contraria os valores que são essenciais sobre a sua companhia de bandeira".
"Como tem dito o primeiro-ministro, isso tem que ver com a unidade territorial, a diáspora, a coesão económica e social e estimular o sector do turismo. Decidir reduzir número de voos e destinos, colocando em causa pontos de partida e de destinos, põe em causa esses objetivos", prosseguiu.
António Costa já tinha assegurado, no Parlamento, que "haja o que houver" a TAP continuará a "voar" com cores portuguesas, impondo condições relacionadas com a ligação do território ou às comunidades de emigrantes. Mas, e depois das críticas duras e muito públicas do ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, à gestão da empresa, o primeiro-ministro tinha lembrado que não seria aconselhável fazer a negociação com os acionistas privados na praça pública.
Agora, o PS avisa: a TAP deve emendar o erro e mostrar que está "alinhada com os interesses do país". Esta tarde, os socialistas anunciaram ainda, numa nota enviada às redações, que solicitaram com urgência uma audição do presidente da TAP, Miguel Frasquilho, no Parlamento, para explicar a "desproporção grande entre os voos com origem em Lisboa em relação aos que saem do aeroporto do Porto".
A empresa, que tem a sua operação praticamente parada desde o início da pandemia, publicou na segunda-feira o seu plano de voo para os próximos dois meses, que prevê 27 ligações semanais em junho a partir de Lisboa, sendo três para o Porto, e 247 em julho.
PCP, BE e PSD: Porto não pode ser "apeadeiro" de Lisboa
A estratégia da empresa já tinha gerado uma onda de indignação, tanto da parte de autarcas nortenhos como de vários partidos. Em conferência de imprensa, Rui Moreira - sentado ao lado do presidente da Entidade de Turismo do Porto e Norte e dos autarcas da Maia, Viana de Castelo e de Vila Real - acusou a transportadora de estar a tentar "confinar o Porto e Norte" e de abandonar o país. E acrescentou que, numa altura em que se discute qual deve ser a intervenção numa empresa que o Governo já admitiu poder chegar a situação de insolvência, o Executivo só deve ajudar a empresa "se exigir, no momento de retomar os voos, que seja na mesma percentagem no Porto, Lisboa, Faro, Madeira e Açores".
A organização regional do Porto do PCP também não demorou a reagir ao “número muito insuficiente” de voos a partir do Porto, usando a notícia para justificar a sua posição sobre a TAP: é preciso recuperar o “efectivo controlo público da TAP, afirmando-a como companhia de “bandeira”, ao serviço do País e do seu desenvolvimento”. “O número de ligações e de voos agora definidos para o Porto não correspondem às necessidades das populações nem da região e reflectem opções de gestão que não colocam como prioridade o desenvolvimento do País como um todo”, argumenta a organização, em comunicado.
Também o Bloco de Esquerda, numa declaração do deputado José Soeiro citada pela Lusa, acusou a empresa de tornar o aeroporto portuense “uma "espécie de apeadeiro ao serviço do Aeroporto de Lisboa”.
Rui Rio mostrou-se em sintonia com os restantes partidos: à saída da reunião com António Costa para negociar o Plano de Estabilização do país pós-pandemia, reagiu defendendo que, se a TAP é uma empresa "confinada à antiga província da extremadura" que não serve os aeroportos do Porto, Funchal ou de Faro, "então não é uma empresa nacional, é uma empresa regional".