O dinheiro das linhas de crédito está a demorar a chegar às empresas, a percentagem ainda é baixa, mas Pedro Siza Vieira não responsabiliza a banca por essas dificuldades e promete que “nos próximos dias” a tendência será para que comece a chegar mais dinheiro ao tecido empresarial. “Sei que é impopular dizer isto, que há muitas queixas, mas neste momento o sistema bancário no seu conjunto está a ajudar a amortecer o impacto [da crise] , o que não se verificou há 10 anos”, respondeu em entrevista ao podcast do PS “Política com palavra”.
O ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital reconhece que tem havido dificuldades em vários campos que podem fazer com que os processos sejam mais demorados. “Apesar do esforço, isto é demorado”, responde. Uma das demoras acontece na Garantia Mútua (SPGM), a estrutura pública que concede as garantias do Estado para que os bancos possam depois ceder o crédito. “É isso mesmo”, responde quando é questionado pelo jornalista Filipe Santos Costa se o que se passa na SPGM é o mesmo que na Segurança Social, em que a “máquina” teve de se adaptar. Em números, passou de uma avaliação de 200 créditos para 40 mil numa semana. O tempo é, acredita, “recuperável”. “Estamos a falar de um nível que vai recuperar nos próximos dias. Nos próximos dias vamos ver o dinheiro a chegar às empresas”, promete.
Do lado da banca, Siza Vieira reconhece um comportamento “bem diferente de há 10 anos”, na última crise financeira e que também “foi muito difícil assegurar o fluxo de tratamento dos processos” uma vez que também tem funcionários em casa.
Apesar das críticas que têm surgido aos bancos, Siza Vieira não entra nesse campo e, antes pelo contrário, refere que estes estão a “permitir amortecer bastante a crise no setor económico”. Acha que estão à altura, pergunta o jornalista,. “Acho que sim. Sei que é impopular dizer isto, que há muitas queixas, mas neste momento o sistema bancário no seu conjunto está a ajudar a amortecer o impacto, o que não se verificou há 10 anos”.
Siza Vieira diz que “não estava à espera” que a adesão das empresas a estes apoios fosse desta ordem de grandeza. “Foi de rompante”, diz. E garante que apesar da adesão, ainda “há disponibilidade” nas linhas de crédito que já foram lançadas.
A entrevista do ministro acontece no dia em que o Governo debate o Programa de Estabilidade, sem previsões para futuro. Siza Vieira reconhece que ainda não as há, mas está “convencido que Abril será o pior mês”.
Para o ministro, a crise poderá ser mais profunda neste segundo semestre, com o mês de Abril a ser o pior, mas com o terceiro e quarto trimestre a serem já de crescimento.
Será nessa fase que será essencial o papel do Banco do Fomento, prometido para Fevereiro mas também em atraso. “Vai fazer diferença na fase de retoma”, admite o ministro e por isso diz que a instituição “vai ter de ir para a frente muito rapidamente”. O ministro diz que está em conversas com a Comissão Europeia sobre o assunto que “nas próximas semanas haverá novidades a esse respeito”.
TAP: Estado a mandar
O tom é diferente do usado pelo ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, que pôs de lado uma solução apenas de garantia do Estado a empréstimo dos privados e disse que se o Estado tiver de entrar com dinheiro, tem de mandar. “Se o povo português paga, o povo português tem de mandar”, disse. Siza Vieira usa um tom diferente, mas diz quase o mesmo.
Questionado se o Estado deverá ficar a mandar na empresa, respondeu: “Acho que é inevitável e está a acontecer em todo o lado” onde há entrada de dinheiro público em empresas de aviação. “Onde isso tem acontecido, tem havido um acréscimo do poder de controlo dos Estados sobre as empresas”, reforçou.
“Quem mete dinheiro, obviamente tem de ter uma cautela especial como esse dinheiro está a ser utilizado”, finalizou.
O ministro da Economia não é avesso e é até defensor da entrada do Estado no capital de algumas empresas. Sem entrar em detalhe, Siza Vieira diz que tal pode acontecer “com instrumentos híbridos ou entrada no capital”, em empresas de “setores estratégicos”, referindo alguns “setores industriais” que “são promissores do ponto de vista da sua capacidade técnica, mercado” como indústria da “metalomecânica, dos plásticas, das biotecnologias, da saúde, do agro-alimentar”. Serão “empresas prometedoras, mas que precisam de crescer, ganhar escala e isso não se faz sem capital”, disse.