Começou a pedagogia possível para preparar a saída do confinamento. Primeira regra: mencionar aquilo de que se tem medo e Marcelo Rebelo de Sousa foi por aí no final da reunião com especialistas, no Infarmed, sobre o estado da pandemia. "Em maio, os portugueses vão começar a habituar-se a conviver com um virus que passa a ser um dado novo no seu dia a dia".
Assustadora ou não, é esta a perspetiva: começar a preparar "a transição", que "terá que ser feita com precaução". E por isso vem aí uma nova renovação do estado de emergência em moldes similares ao que está em vigor. Para que, afirmou o Presidente da República, "se tudo correr como esperamos, abril permita olhar para maio como um mês diferente", um mês de "retoma progressiva da vida social".
O Presidente arriscou mesmo falar, citando o primeiro-ministro, de "esperança numa luz ao fundo do túnel", mas foi cauteloso quando questionado sobre se em maio poderá levantar o estado de emergência. "É cedo para nesta ocasião estarmos a falar do que vai ser maio", afirmou Marcelo, remetendo uma decisão final para a próxima reunião que terão com os especialistas a 28 de abril.
Na de hoje, e segundo relatou o Presidente, ficaram a saber que a epidemia continua a ter "uma evolução positiva", "há uma desaceleração lenta mas cada vez mais consistente" do número de casos e também uma "redução" da percentagem de contágios. Mas os números ainda não levam os técnicos de saúde a dar folga aos políticos.
Nas recomendações que passaram aos políticos, os especialistas voltaram a pedir muita prudência - foi dito na reunião que enquanto houver números como os de hoje, com 500 infetados por dia, é cedo para levantar medidas restritivas. E António Costa, que falou a seguir ao Presidente, alinhou no discurso positivo - "é em abril que se ganha a liberdade para a vida". Mas avisou que "maio ser um mês de transição não significa correr riscos contraditórios com o caminho que se fez até aqui".
"Cada vez que tirarmos restrições o número de contágios vai aumentar", avisou António Costa, pedindo "perspetiva de longo prazo", admitindo que temos que nos preparar "para conviver socialmente com o virus sem risco de contágio". "Haverá um dia" em que isso será possível, só que esse dia ainda não chegou.
Sobre a reabertura ou não das escolas para os dois anos do secundário que têm exames nada foi dito. A decisão final estará dependente da reunião com os especialistas no dia 28 o que, dada a proximidade da data limite anteriormente apontada pelo chefe do Governo para abrir escolas - 4 de maio - pode somar dificuldades a que essa reabertura chegue a acontecer.
Para já, certo é que Marcelo Rebelo de Sousa vai renovar esta quinta-feira o estado de emergência - "tudo se encaminha para uma renovação imediata", afirmou. O PCP continua a ser contra e o BE anunciou que não acha necessário ir para além disso. Mas já foi noticiado pelo Público que o Governo admite prolongar o estado de emergência até meados de maio.
Marcelo, para já, deixou tudo em aberto. Com uma certeza: "Maio ser um mês de transição para o convívio económico e social com a realidade do vírus não significa correr riscos contraditórios com o caminho seguido até aqui". Questionado sobre se faria sentido os católicos manterem a habitual procissão do 13 de maio em Fátima, o PR foi claro: "qualquer pessoa perceberá" que a "preocupação fundamental" é fazer a transição com cuidado e isso é incompatível com "fenómenos de massas".
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