Política

"O PS afastou-se das questões sociais e laborais”, diz Paulo Pedroso

Em entrevista ao Expresso, Paulo Pedroso aponta o dedo à relação que o Governo tem com sindicatos e com o mundo laboral. Diz que os socialistas se afastaram da sua matriz de partido da social-democracia ao ser um partido mais pró-patrões do que pró-trabalhadores

Uma das questões que o está a opôr ao Governo é a relação com o sindicalismo. O Governo percebeu o que se estava a passar com os sindicatos?
O Governo desvaloriza o papel dos sindicatos

Pelas queixas dos próprios, mais da UGT que da CGTP...
A atitude geral do Governo é muito mais pró-business do que pró-diálogo social e seguramente não é a atitude clássica de um partido da social-democracia seria um partido com uma simpatia preferencial pelo movimento sindical.

Ter o ministro da Economia a liderar, de facto, a Concertação Social é uma prova disso?
Há várias escolhas. É claro que o PS evoluiu de uma posição de autonomia entre partido e sindicato para uma posição de desvalorização do mundo sindical. O programa eleitoral do PS é absolutamente centrista desse ponto de vista. Põe em completo pé de igualdade a necessidade de reforçar o movimento sindical e o movimento patronal. Isso tem uma consequência: deixou mais órfão um movimento sindical que se sinta mais próximo do PS e deixou mais próximo do PCP um movimento que se sinta mais próximo do PCP. Essa é uma consequência não é uma causa. A causa do problema é que o sindicalismo português está num plano inclinado de descida e influência na sociedade quer também ao nível de influência na política nacional. No Parlamento, quando se compara o número de sindicalistas hoje com o número de há 20 anos, percebe-se que o sindicalismo desapareceu do Parlamento.

Não há deputados sindicalistas no PS.
O PS fez uma escolha deliberada de não ter sindicalistas no Parlamento, não foi sequer um acidente. O PS tomou uma decisão política de achar que não havia sindicalistas relevantes para integrar o grupo parlamentar. Há uma perda de influência no topo, política.

Carlos Silva diz que há um problema...
Aparentemente, entre António Costa e Carlos Silva, há uma questão que é pessoal, mas essa não é a questão sindical. Ainda este fim-de-semana António Costa propôs que o secretário-geral cessante da CGTP fosse condecorado. É um gesto pró-sindical, mas também é um gesto próximo para com um conhecido dirigente sindical comunista. Cada um fará as suas leituras. Os sindicatos não se souberam aproximar bem dos nossos dinamismos do mercado de trabalho, dos novos problemas e das novas dramas. Isto criou uma ideia que as centrais sindicais eram muito politizadas e muito partidárias, e portanto enfraqueceu-as, e por outro lado isto é reforçado pelas sucessivas restrições à contratação coletiva. Os sindicatos hoje negoceiam em caso de absoluta necessidade, partem de uma posição frágil. São também penalizados pelo desaparecimento dos sindicalistas-estrela. Por outro lado, o afastamento entre a UGT e o PS, que faz com que o PS se tenha afastado das questões sócio-laborais.

O PS não é um partido dos trabalhadores?
O PS teve ministros muito ativos nas questões sócio-laborais - na verdade foi quase sempre o mesmo ministro [Vieira da Silva] - mas o PS, como partido, não tem hoje nenhuma empatia pela causa sindical. Não quer dizer que não reveja essa posição no curto-prazo. Muita gente no PS olha para os sindicalistas como empecilhos. Depois há também uma luta puramente partidária para excluir da cúpula da CGTP qualquer pessoa ligada ao Bloco de Esquerda.

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