Do Wiki ao Football Leaks. Cinco anos de fugas, para quê?

Desde 2014, várias fugas de informação originaram investigações de larga escala. A evasão fiscal tem sido o prato principal
Desde 2014, várias fugas de informação originaram investigações de larga escala. A evasão fiscal tem sido o prato principal
Editor de Economia
Site criado em 2006 por Julian Assange para revelar documentos confidenciais, sobretudo sobre corrupção, violação de direitos humanos e crimes de guerra. Até hoje publicou 10 milhões de documentos. Assange está preso no Reino Unido.
Investigação de 2014 do consórcio jornalístico ICIJ, com base em documentos da PwC relativos a 2002-2010. Expôs esquemas de otimização fiscal de mais de 300 empresas no Luxemburgo. As revelações levaram Bruxelas a debater a taxação das empresas. Nenhuma foi alvo de processos, por se concluir que os esquemas eram legais. O principal denunciante foi Antoine Deltour, ex-funcionário da PwC. Condenado no Luxemburgo a uma pena de prisão suspensa, em 2018 ganhou em segunda instância.
Investigação de 2015 do ICIJ partiu de uma denúncia de Hervé Falciani, ex-funcionário do banco HSBC, que em 2008 tinha entregado milhares de ficheiros às autoridades francesas sobre contas na Suíça de mais de 100 mil clientes, em muitos casos associados a esquemas de evasão fiscal. Falciani foi em 2015 condenado na Suíça a cinco anos de prisão, mas está em Espanha, que se recusa a extraditá-lo. Em 2017, o HSBC pagou €300 milhões de coima em França e em 2019 outros €294 milhões na Bélgica. Em Portugal, o Fisco começou em 2016 a inspecionar 99 cidadãos que em 2006 tinham contas no HSBC na Suíça. Até 2018 só tinha recuperado €272 mil. A Autoridade Tributária (AT) admite que muitos contribuintes já tinham repatriado capitais para Portugal ao abrigo dos perdões fiscais do RERT.
Investigação do ICIJ de 2016 a partir de 11,5 milhões de ficheiros da Mossack Fonseca, do Panamá. Expôs 214 mil offshores espalhadas pelo mundo inteiro. O Expresso contou 240 cidadãos portugueses ligados a offshores, entre eles o ex-presidente da Bial, Luís Portela, o antigo presidente do Benfica, Manuel Vilarinho, e gestores do GES. Segundo o ICIJ, os Panama Papers permitiram às autoridades de vários países recuperar €1,1 mil milhões de impostos. Em Portugal, a AT tinha até 2018 analisado 111 casos, mas só um ficou concluído, levando o contribuinte a declarar um acréscimo ao rendimento de €4,6 milhões. O denunciante, com o pseudónimo “John Doe”, permanece anónimo.
Projeto do consórcio jornalístico EIC realizado entre 2016 e 2018, replicando o nome do blogue criado por Rui Pinto para divulgar os segredos do futebol. O EIC revelou conflitos de interesse, violação de regras da UEFA e esquemas de evasão fiscal. Ronaldo foi condenado em Espanha a dois anos de prisão (pena suspensa) e a pagar ao Fisco mais de €18 milhões de impostos sobre direitos de imagem. Em Portugal não há consequências conhecidas. Em 2019, Rui Pinto foi preso em Budapeste e assumiu ser “John”, a fonte principal do Football Leaks.
Projeto do EIC que em 2017 revelou como Malta é usada para pagar menos impostos. O Expresso contou mais de 400 cidadãos portugueses ligados a empresas em Malta. Entre eles, meia centena de sócios da Deloitte usaram Malta para canalizar para Portugal ganhos do exterior. A ação da AT em 2018 levou os sócios portugueses da Deloitte a corrigir as declarações, permitindo ao Estado português arrecadar €9 milhões. Em 2019 Rui Pinto assumiu-se como fonte.
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