Rio entra no segundo mandato a exigir "seriedade e lealdade" para haver "estabilidade"
Octávio Passos
Depois de dois anos "infernizado" pela oposição interna, o líder do PSD não quer uniões artificiais a qualquer preço. Para haver unidade, é preciso que a oposição interna seja séria e leal. E volta a dizer aos que ambicionam cargos autárquicos que ele não prometeu lugares
Após ter lançado a sua recandidatura "há três longos meses", Rui Rio voltou a cantar vitória na segunda volta das diretas esta noite. Como na primeira ronda eleitoral há uma semana, o reeleito líder do PSD, com 53% dos votos, repisou que se candidatou com "espírito de missão e desprendimento", razão pela qual confessa aceita a "vitória com naturalidade" e, caso perdesse, a "derrota sem azedume".
"Ganhei com satisfação, orgulho, mas acima de tudo com sentido de responsabilidade", afirmou, recordando que faz hoje precisamente um ano que o Conselho Nacional do partido votou "na estabilidade do PSD", ao votar contra a sua "destituição a meio do mandato", alusão ao repto lançado então pelo adversário das diretas, Luís Montenegro.
Para Rui Rio, a sua vitória hoje foi de novo uma "votação na estabilidade" ao reconduzir a atual liderança, esperando, por isso, que a partir de agora possa trabalhar à frente do partido também com "estabilidade e lealdade". O recado estava dado, sem precisar de citar os nomes de quem lhe "infernizou a vida" nos últimos dois anos.
"Foi tempo de marcar as diferenças. Ouvi os comentadores dizerem que está tudo partido porque uns votaram num e outros noutro, o que não é divisão nenhuma, mas o normal é democracia", afiançou Rio, alertando que este é o momento para "marcar a unidade". "Para mim, cabem todos cá dentro, desde que estejam com seriedade e lealdade", recordou, apesar de advertir que, ao contrário de há dois anos, não irá dar a mão a Montenegro para integrar a estrutura do partido, como fez com Santana Lopes "e correu mal".
Rui Rio deixou ainda um recado claro para dentro do partido, lembrando que agora, como no passado, não irá "escolher os amigos nem os líderes de fação" para candidatos autárquicos em 2021, "mas os melhores". "Não prometi nada a ninguém, por isso não estou preso a nada, vamos decidir como temos de decidir", avisa.
A abertura do PSD à sociedade é outra das suas promessas , dando razão aos portugueses por se terem afastado da vida partidária, cenário que leva Rio a anunciar que tem a responsabilidade "de mudar o país". "Quero um partido onde os portugueses possam discutir ideias e não discutir galos e pintainhos em torno de lugares", garantiu, sendo este o desafio lançado a quem entrar de novo no PSD.
A oposição forte e credível ao PS é outro dos desafios para os próximos anos, recordando que tanto serve se serve o pais "no governo, como na oposição". "É essa a nossa obrigação", é outra das suas máximas renovadas. Sem um resultado esmagador, outro mantra dos seus mantras é que não é por "mais um voto aqui ou acolá" que o resultado não é claro: "Do meu ponto de vista, foi o suficiente para a unidade", refere otimista.
Octávio Passos
Rui Rio começou o seu discurso, direto e frontal como sempre, avisando que iria deixar sete mensagens, tantas como "o número com que Ronaldo jogo", mensagens que foram um misto de agradecimentos à sua entourage, aos militantes de base e também aos portugueses. A primeira piscadela de olho do reeleito presidente do PSD foi para os militantes que se deslocaram, pela segunda vez numa semana, às urnas, "até um bocadinho mais do que há uma semana", facto que, confessou, "engrandeceu o PSD, o encheu de orgulho e de responsabilidade.
Satisfeito por ter conseguido mais 1670 votos do que na primeira volta, o líder do PSD, voltou a advertir que quem nele votou fê-lo por "convicção", assegurando que "nada prometeu a ninguém em troca de votos". Os portugueses não militantes laranja foram ainda invocados, porque, diz, foram quem o incentivou a recandidatar-se. "Disseram-me, na rua e espaços públicos, que se ganhasse entrariam para o PSD. Têm a porta aberta", garante.
Agradeceu aos adversários, mas fez questão de lembrar José Manuel Bolieiro, líder do PSD-Açores e da câmarra de Ponta Delgada e vice do PSD que irá a votos na região autónoma em outubro. "Há 24 anos que o PS tem um poder tentacular nos Açores", alerta Rio, embora vaticine que o partido estará em condições de lutar taco-a -taco para fazer a mudança no outono.
Francisco Pinto Balsemão, tal como há dois anos, voltou a ser mencionado no discurso do líder do PSD, referindo ser uma "honra" poder contar sempre o apoio de quem ajudou a fundar a social-democracia e a honrar o legado de Sá Carneiro.