A intenção estava toda lá. A poucos dias das eleições diretas no PSD, agendadas para 11 de janeiro, Luís Montenegro fechou o dia de campanha com uma iniciativa com militantes em Lisboa em que pouco ou nada falou sobre Rui Rio ou Miguel Pinto Luz. O objetivo declarado é o de convencer o partido (e os portugueses) de que (já) é ele o verdadeiro líder da oposição.
E foi esse o tom que dominou a intervenção de mais de 40 minutos do antigo líder parlamentar social-democrata. Sem nunca criticar abertamente Rui Rio, Luís Montenegro defendeu a urgência de o país voltar a ter uma oposição “ativa” e “vigilante” a António Costa -- que é o mesmo que dizer que, neste momento, não a tem --, e embrulhou a ideia com um soundbite estudado: “O meu adversário chama-se António Costa. Rui Rio e Pinto Luz são meus parceiros e aqueles que os apoiam estarão ao meu lado para irmos à conquistas”.
Mais claro era impossível: Luís Montenegro já se vê (ou melhor, quer que o vejam) como novo presidente do PSD. Daí a insistência na marcação cerrada a António Costa e aos socialistas, que já mostram “tiques” de se acharem os “donos disto tudo”. Tem sido assim, enumerou Montenegro, quando Mário Centeno pisca o olho ao cargo de governador do Banco de Portugal e garante que não existe qualquer conflito de interesses; tem sido assim quando o Governo aprova um decreto-lei “nas costas dos portuguesas” que altera as regras para a contratação das Parcerias Público-Privadas (PPP); e tem sido assim quando o PS impede ativamente uma comissão parlamentar de inquérito às alegadas irregularidades na gestão dos donativos relativos aos incêndios de 2017.
“O maior partido de oposição tem de fiscalizar, escrutinar, responsabilizar e denunciar o Governo por aquilo que não faz. Portugal precisa mesmo muito de voltar a ter esta dicotomia poder-oposição. É necessário à própria vitalidade da democracia”, sublinhou o social-democrata.
Montenegro apontou depois as prioridades: reduzir impostos sobre rendimentos do trabalho e sobre os lucros das empresas; uma política de imigração capaz de atrair quadros qualificados; uma estratégia para habitação capaz; aposta na transição digital; definição de um modelo justo de apoio à comunicação social; persecução de uma nova política para o ambiente; e sem esquecer, apesar da controvérsia que a ideia causou, a necessidade de repensar a forma como se mede o progresso do país, não apenas pela sua capacidade de criar riqueza, mas também pela sua “capacidade de gerar felicidade e bem-estar”, o tal “índice de felicidade interna bruta”.
Insistindo que a eleição de dia 11 “não é para escolher os amigos, nem os mais simpáticos” mas, sim, entre “dois caminhos alternativos”, terminou com outra ideia que já tinha deixado em entrevista ao Expresso, publicada na edição de sábado passado: Não voltemos ao Governo para resolvermos pântanos ou bancarrotas. Não somos o partido da austeridade, não somos o partido da troika. Queremos ganhar o direito de governar Portugal para o podermos transformar em tempos de normalidade”, rematou.
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