Legislativas 2019

“Não têm que agradecer nada ao Governo nem ao António Costa". Agradeçam com votos

“Não têm que agradecer nada ao Governo nem ao António Costa". Agradeçam com votos
TIAGO MIRANDA

Em Santarém, Costa não disse nem uma palavra sobre Tancos, as suspeitas que envolvem Azeredo ou as insinuações de Rui Rio. Com casa cheia, fez o discurso-tipo desta campanha e sublinhou a importância de mais quatro anos de estabilidade

“Não têm que agradecer nada ao Governo nem ao António Costa". Agradeçam com votos

Filipe Santos Costa

Jornalista da secção Política

“Não têm que agradecer nada ao Governo nem ao António Costa". Agradeçam com votos

Tiago Miranda

Fotojornalista

O momento do dia:

António Costa estava na Casa do Impacto, num encontro de campanha com jovens empreendedores, quando Rui Rio deu uma conferência de imprensa em que considerava “pouco crível” que o primeiro-ministro não soubesse da encenação de Tancos, e, mais do que isso, admitiu que o PS esteja a tentar comprometer o Presidente da República no escândalo. A decisão, com o seu núcleo-duro, foi de reagir de imediato, antes dos telejornais, para não deixar a insinuação do PSD ganhar lastro. As palavras foram duríssimas. Qualquer que seja o efeito, este pode ter sido o dia definidor da campanha.

A frase:

“A mim Rui Rio não me atingiu; atingiu a dignidade desta campanha eleitoral.!
António Costa, secretário-geral do PS

O personagem:

Azeredo Lopes não é ministro há quase um ano, mas continua a dar dores de cabeça ao PS e ao Governo. A sua demissão em outubro do ano passado não livrou os socialistas do escândalo de Tancos, reavivado em julho quando o ex-ministro da Defesa foi constituído arguido, e agora colocado na primeira linha do combate político devido à acusação, que lhe imputa quatro crimes relacionados com a encenação do ”achamento” do material roubado nos paióis nacionais de Tancos. Costa deixou-o sair do Governo mas, até ver, não o deixa cair.

A fotografia:

António Costa, na Casa do Impacto, em conferência rápida com o seu núcleo duro, antes de fazer a declaração a atacar a posição de Rui Rio por causa de Tancos
TIAGO MIRANDA

Não se ouviu nem uma palavra de António Costa no comício desta quinta-feira sobre o assunto que marcou o dia e pode marcar toda a campanha eleitoral: a acusação de Tancos, as insinuações de Rui Rio sobre o que Costa saberia e o que o PS terá feito, e a resposta a pés juntos que o socialista lhe desferiu não entraram na Casa do Campino, em Santarém, onde o líder socialista tinha umas quinhentas pessoas a aplaudi-lo.

Uma dessas pessoas foi uma mulher que à entrada lhe agradeceu. “Obrigado por me devolver a reforma”, disse ao líder socialista; quase as mesmas palavras que outra mulher lhe tinha dito, durante a manhã, numa arruada em Moscavide. A resposta de Costa também foi igual - “Não tem de agradecer”.

Mas, desta vez, Costa repetiu a resposta em voz alta, para toda a gente ouvir. Partilhou o episódio com todo o comício, e rematou: “Os direitos não se agradecem, os direitos defendem-se. Os direitos são próprios, ninguém dá nada. Não tem que agradecer nada ao Governo, não tem que agradecer nada ao António Costa. Têm de dar força ao Governo, ao PS, ao António Costa, para defender os direitos que conquistámos e não podemos voltar a perder.”

A noite de Santarém foi em tom comicieiro sem qualquer referência ao assunto do dia,
TIAGO MIRANDA

A importância de serem 4 anos

Foi um dos pontos altos do discurso, já no fim, e também uma das poucas novidades em relação a um guião que se tem repetido noite após noite. “Cumprimos todos os compromissos” - virar a página da austeridade, restabelecer a credibilidade internacional do país, garantir a estabilidade política e a “tranquilidade na vida do dia a dia dos portugueses”. Taxa de desemprego em metade, aumento do salário mínimo e do rendimento médio das famílias, redução dos índices de desigualdade, “e foi possivel fazer isto tudo com contas certas, o défice mais baixo em democracia e dois mil milhões de euros, de poupança em juros em relação com o que Portugal pagava em 2015”.

“Connosco o diabo não vem, e não vamos andar para trás”, voltou a prometer Costa, desde que o eleitorado dê “força ao PS”. O secretário-geral socialista assumiu o compromisso: “Daqui a quatro anos cá estaremos para dizer outra vez cumprimos.” E enfatizou a importância dos quatro anos, como quem diz que a estabilidade ou vale uma legislatura completa ou não é estabilidade. “Só com 4 anos de estabilidade podemos começar a desenvolver e acabar os compromissos que assumimos. Se esta legislatura não tivesse 4 anos não poderíamos apresentar os resultados que apresentámos”, frisou Costa. As condições de governação ao longo do próximo mandato são a preocupação central de quem sente que a vitória eleitoral já está assegurada, só restando saber por quantos.

Marcação imediata a Rui Rio

O efeito das acusações desta quinta-feira em torno de Tancos é, neste momento, o elemento mais imprevisível da campanha, e o seu grande foco de dramatização.

Os socialistas consideraram “imperdoável” a forma como Rui Rio admitiu que tenha sido o PS a orquestrar as notícias que envolviam Marcelo Rebelo de Sousa no encobrimento do “achamento” do material roubado em Tancos.

“Rio foi longe demais”, ouvia-se esta noite entre os responsáveis socialistas. Costa não quis deixar que as insinuações de Rio pudessem ganhar lastro e decidiu na hora fazer uma declaração para tentar encostar o social-democrata às cordas: acusou-o de incoerência, ao trair princípios que proclama há anos, contra os “julgamentos na praça pública”.

Pode estar aí a bipolarização que os socialistas queriam que acontecesse, confiantes de que, no confronto direto com Rio, Costa não só leva vantagem, como transforma a eleição numa disputa esquerda/direita.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: FSCosta@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate