Política

Na noite do duelo à direita, houve um pacto de não-agressão

Em 2018, Rio esteve no Congresso do CDS, em Lamego, que confirmou a liderança de Assunção Cristas
Em 2018, Rio esteve no Congresso do CDS, em Lamego, que confirmou a liderança de Assunção Cristas
Tiago Miranda

Assunção Cristas recuou nas provocações e Rui Rio preferiu desvalorizar (e até esquecer) meses de ataques ao PSD. No final, o objetivo comum uniu-os: a redução de impostos deve ser uma prioridade

O duelo à direita (uma simplificação talvez abusiva face à renovada garantia de Rui Rio de que o PSD não é de direita) deixou tudo na mesma. Com uma diferença: depois do debate desta noite, os dois têm menos uma oportunidade para marcar pontos até às eleições.

Mas, em boa verdade, a responsabilidade estava do lado de Assunção Cristas, a principal derrotada de um debate em que ninguém verdadeiramente ganhou. A líder do CDS perdeu a derradeira oportunidade de dizer a Rui Rio, de forma frontal e para eleitor ver, o que foi dizendo ao longo deste ano e meio: que só o CDS era a verdadeira oposição ao PS e que só ela era alternativa real a António Costa.

Com Pedro Passos Coelho fora de cena e perante a convulsão do PSD, o CDS tentou afirmar-se como o verdadeiro campeão da direita. Cristas, aliás, nunca teve grande pudor em criticar o parceiro natural, o tal partido “da colaboração”, o que servia de “socorro” ao PS. Mais: chegou mesmo a dizer que o CDS seria “a única opção possível” para quem é de direita em Portugal.

Hoje, e depois do balde de água fria europeu, Cristas não só não foi capaz de explicar porque é que o CDS é o líder da direita como não o quis fazer. No mesmo dia em que Rio reafirmou que o PSD nem sequer disputa eleitorado com o CDS, Cristas apresentou-se no debate com uma postura conciliadora, concentrada em falar do próprio programa eleitoral. E pouca questão fez de marcar diferenças, de atacar o adversário ou de tentar dominar a conversa.

E não faltaram oportunidades. Confrontada diversas vezes sobre as alfinetadas que foi atirando ao PSD nos últimos meses, Cristas preferiu fugir ao confronto. Então o CDS não se posiciona como o partido de direita português por oposição ao PSD? “O ponto não é esse”, desvalorizou Cristas. Era, mas já não é.

Em boa verdade, Rio também não arriscou. No PSD, existe a perceção de que o eleitorado de direita está comprometido com o partido e de que o CDS não faz sombra às pretensões sociais-democratas. E Rio seguiu esse guião à risca: fez-se de desentendido quando confrontado com as críticas de Cristas, completou frases da líder do CDS, fez juras de alianças futuras e tentou não cometer erros.

Perante a resistência de ambos, foi Clara de Sousa, no papel de moderadora do debate, a resumir a conversa: “Então, não há 'heart feelings'?”. “Não”, despachou Rio. O assunto não interessava a ninguém.

O que ficou então deste debate? Uma ou outra diferença (Rio é a favor da regionalização se implicar redução de despesa, Cristas é frontalmente contra; o social-democrata diz que fez tudo bem na questão dos professores, a democrata-cristã reconhece erros), e um ponto de contacto entre ambos: a receita económica do PS é errada e a prioridade do país deve ser a de reduzir impostos. Foi o que sobrou de um debate com pouco brilho.

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