Política

Tudo chumbado. Lei de Bases da Saúde fica esvaziada no que toca às PPP

Tudo chumbado. Lei de Bases da Saúde fica esvaziada no que toca às PPP
Mário Cruz/ Lusa

Na primeira fase de votações, chumbos atrás de chumbos ditaram que as referências às PPP desaparecessem do ponto mais polémico da Lei de Bases. Mas a lei de Durão Barroso, que lhes dá base legal, continua em vigor

Não houve acordo para proposta nenhuma. A questão das parcerias público-privadas (PPP) na Lei de Bases da Saúde acabou como começou: num enorme bloqueio. Esta tarde, no grupo de trabalho dedicado à construção da nova lei-quadro do setor, as propostas para o artigo que previa a existência, ou não, de PPP foram rejeitadas, uma por uma, incluindo a proposta de lei do Governo. O que quer dizer que a lei fica esvaziada neste ponto.

As propostas do Bloco de Esquerda e do PCP, que previam que a gestão dos serviços do SNS fossem públicos, foram rejeitadas pela direita e o PS. Mas, de seguida, também as propostas do PS e do Governo - que abriam a porta à assinatura destes contratos em casos "excecionais" e de forma "supletiva" - também mereceram o chumbo da esquerda e da direita. E, assim, deixou de existir este ponto da lei.

O que não significa que deixe de haver PPP caso esta versão da lei seja depois aprovada em votação final: há uma base legal à parte, que não faz parte da Lei de Bases da Saúde, que prevê que elas existam.

Por partes: quando a lei-quadro que atualmente vigora foi aprovada, em 1990, não existia este regime das PPP. Passou a estar legalmente enquadrado por um decreto-lei de Durão Barroso, em 2002.

Ou seja, se esse decreto fosse chumbado, deixaria de haver qualquer base legal para assinar estes contratos. Na verdade, toda a esquerda pedia precisamente a revogação desse decreto - mas as diferentes propostas, com diferentes moldes, nesse sentido acabaram chumbadas, pelo que não se concretizou a revogação. O decreto de Durão continua em vigor.

PS chama esquerda, BE chama PS, PCP analisa

Afinal, o que ficou das votações indiciárias (a primeira fase de votações parlamentares) sobre a Lei de Bases da Saúde? Depende - radicalmente - de quem responder.

Para o PS, houve avanços notórios e uma "mudança na mensagem política" sobre o setor da Saúde em Portugal, disse a deputada Jamila Madeira à saída daquele grupo de trabalho. Ou seja, para o partido, apesar de nesta fase terem desaparecido da Lei de Bases todas as referências às PPP (que continuam a ter enquadramento legal graças ao decreto de Durão), conseguiu-se "focar a gestão pública" e definir que "a relação com privados é supletiva e temporária" - uma mudança "radical" relativamente à versão atual da lei, aprovada em 1990 pelos partidos da direita, e que "investia" e "patrocinava" os privados.

Apesar disto, não ficou, como o PS queria, a referência às PPP na lei, ainda que com caráter temporário, supletivo e excecional. E é isto que os socialistas querem chamar a esquerda a aprovar na votação final: "Apelamos a todos os que defendem o SNS que se concentrem na aprovação de uma nova Lei de Bases" - e com isso na aprovação do ponto que prevê a "excecionalidade", e não a eliminação, como a esquerda queria, das parcerias público-privadas. "Ainda não conseguimos chegar lá, mas não quer dizer" que não seja possível até ao dia da votação final, garantiu a deputada. E só a esquerda contará para esta matemática? "Todos os partidos são responsáveis", frisou.

Mas do lado do Bloco de Esquerda a posição não mudou. O deputado Moisés Ferreira criticou o chumbo de "todas as propostas, responsáveis e sensatas", do BE pelo PS: "O PS rejeitou qualquer hipótese de solução e deixou que seja uma passadeira estendida para novas PPP". O Bloco promete agora insistir, de novo, nas suas propostas - que vai voltar a apresentar - para eliminar tanto as PPP da lei como o decreto de Durão Barroso que permite que sejam feitas e deixar essa discussão para a próxima legislatura. E devolve o desafio: "A questão é saber se o PS prefere as PPP ou uma uma nova Lei de Bases".

No PCP, espera-se por uma análise desta versão do texto que resulta das votações indiciárias. Isso mesmo indicou a deputada Paulo Santos, garantindo que o PCP está "disponível para apreciar e analisar o texto que resulta" - e frisando que ainda há a possibilidade de avocar, para plenário, normas que tenham sido chumbadas desta vez, para as tentar recuperar. Fica marcada para 2 de julho uma reunião do grupo de trabalho - depois, as propostas terão de ser confirmadas em comissão e levadas a plenário para a votação final global.

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