O assunto não é pacífico dentro do partido. Dirigentes contra e a favor começam a posicionar-se para pressionar o líder. Maria Antónia Almeida Santos e Isabel Moreira são duas das defensoras
Era certo que a eutanásia voltaria na próxima legislatura, mas não se esperava que o tema estivesse já a aquecer a composição do programa de Governo do PS. O normal e coerente seria o tema ser incluído no documento — o partido apresentou um projeto lei nesta legislatura e António Costa defendeu, em Congresso, que a eutanásia se tratava de mais uma forma de alargar a liberdade pela qual o PS sempre lutou — porém o Expresso sabe que não é certo que isso aconteça.
“A discussão feita mostrou-nos que há maturidade para falar de fim de vida. O meu partido não deve ficar com algum receio de incluir o tema no programa de Governo. É uma matéria sensível, mas o projeto de lei que apresentámos dava todas as garantias. Este foi um tema complicado, mas já não é”, diz ao Expresso Maria Antónia Almeida Santos, deputada, porta-voz do PS e uma das autoras do referido diploma. Também Isabel Moreira, outras das autoras do texto, salienta que na sua opinião pessoal “a eutanásia deve estar no programa de Governo”.
A decisão de defender a morte assistida não foi pacífica dentro do Grupo Parlamentar do PS. O partido adiou a apresentação de um projeto de lei por pressão da direção da bancada e só avançou depois de António Costa, que durante muito tempo manteve uma posição dúbia, ter dado sinal verde. Mas o líder socialista teve primeiro de ser convencido pelos dirigentes defensores da eutanásia. E depois teve de convencer a ala parlamentar mais conservadora a votar a favor. Para isso, foram fundamentais as suas declarações no último Congresso ao dizer que a eutanásia fazia parte do património do partido. Daí que alguns deputados socialistas só tenham votado a favor do diploma do PS, quando existiam outros três (BE, PEV e PAN) muito semelhantes.
CDS pressiona PSD
Uma nova discussão deverá levar, novamente, a uma votação nominal, em que cada deputado se levanta e diz como vota. Já a pensar nisso — e na importância que os votos que os deputados mais liberais do PSD poderão ter para aprovar a lei — o CDS também já começou a pressionar os sociais-democratas, instando-os a dizerem ao que vêm.
“A próxima legislatura começa já em outubro. Teremos novos deputados e novo equilíbrio de forças. É tão importante saber a opinião de todos os que se candidatam. Transparência também é isto. Escrutínio dos programas, das ideias, das propostas e saber bem como cada um se propõe votar perante determinadas matérias”, escreveu o deputado centrista Pedro Mota Soares num artigo publicado ontem no jornal “Observador”, com o título: “Eutanásia. Tempo de fazer uma pergunta a quem se candidata”.
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