Pacheco Pereira sobre Berardo: “Não são as comendas que lhe quero tirar. É o sorrisinho da cara”
Comentador critica os “festivais de hipocrisia” e a “complacência perante Berardo” dos vários governos
Comentador critica os “festivais de hipocrisia” e a “complacência perante Berardo” dos vários governos
Jornalista
Porque é que está toda a gente a fingir que não sabia quem Berardo é e o que fez? A pergunta foi formulada, embora de forma diferente, pelos vários intervenientes do programa Circulatura do Quadrado, na TVI e na TSF, emitido na quarta-feira à noite.
José Pacheco Pereira usou a expressão “festivais de hipocrisia” para se referir à audição do empresário na comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos realizada na semana passada, que gerou indignação ao ponto de ter havido pedidos para que sejam retirados a Berardo o grau de comendador, com que foi agraciado em 1985, e o de grã-cruz da Ordem do Infante, com que foi condecorado em 2004.
“Quando ele recebeu as comendas, toda a gente que o conhecia sabia quem ele era. Não há novidade nenhuma. Estes festivais de hipocrisia que temos ciclicamente não ficam bem”, afirmou Pacheco Pereira. “Não são as comendas que lhe quero tirar. É o sorrisinho da cara.” Que passa uma mensagem, acrescentou, de “impunidade” — “faço o que quero, peço o dinheiro que quero, dão-me o dinheiro que quero, estouro o dinheiro que quero. E não tenho contas a dar porque não tenho. Coitado, sou pobre, não tenho um tostão”.
Para Pacheco Pereira é muito claro o que está a acontecer e a resposta a dar a isso. “O homem está a gozar com os deputados, não está a prestar nenhuma declaração útil, é convidado numa casa que tem um significado institucional e comporta-se daquela maneira? É para a rua!”
Para Lobo Xavier, as declarações polémicas de Berardo até foram úteis, porque este “disse a verdade”, ao contrário de outras pessoas que já foram questionadas em comissões de inquérito. Uma “verdade” que, na opinião do antigo líder parlamentar e conselheiro de Estado”, está a incomodar alguns. As críticas que lhe têm sido feitas têm servido, aliás, para que ele não conte o que sabe, e Joe Berardo sabe muito. “Este homem conta o que sabe. Qualquer dia, conta as reuniões que teve. Vai contar o modo como se fizeram os contratos.”
Tal como Pacheco Pereira, Lobo Xavier interrogou-se sobre a indignação em torno das declarações e da postura do empresário. “O Berardo sempre foi assim, um parvenu, matreiro, finório, com dificuldades de expressão e de articulação, mas com muito appeal mediático por causa disso, aproveitador dos ventos políticos... Só descobriram agora que ele é assim?”
E o mesmo fez Jorge Coelho, referindo que Joe Berardo já “tinha esta postura” quando lhe deram as comendas”. O antigo ministro socialista disse ainda antecipar “uma grande batalha jurídica” caso a coleção Berardo mude de mãos em 2022, conforme afirmou o primeiro-ministro, António Costa.
Numa fase mais avançada do debate, Pacheco Pereira haveria de recuperar a ideia de Lobo Xavier de que Joe Berardo “sabe muito” e o que sabe poderá ser incómodo, afirmando que o empresário é um “pára-raios que funciona para ocultar” e que ao lado dele está “imensa gente responsável pelo que aconteceu”. “O crédito em Portugal, durante um certo tempo, foi político. Foi controlado politicamente por pessoas que eram colocadas na banca, com responsabilidade no crédito, para o usarem como um instrumento político.” A isso soma-se ainda a “complacência perante Berardo” dos vários governos.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: hrbento@expresso.impresa.pt