O PCP está quase a fazer 100 anos, o 98º aniversário foi comemorado este domingo em território vermelho e entre operários, no Seixal, e a 'geringonça' ficou para trás. Embora o PCP nunca tenha deixado cair a retórica crítica do Governo e do PS, Jerónimo de Sousa recuperou o discurso do "eles são todos iguais". Eles: o PS e o PSD. Neste caso, começou por apontar as aquilo em que são diferentes... "Lembram-se daqueles desenhos para descobrir as diferenças?" E apontou-as: "Vejam lá as diferenças entre PS e PSD, entre o sr. Rangel e o sr. Marques: um é mais altinho, o outro é mais baixinho, mas estão de acordo nas políticas europeias". As eleições de 26 de maio vão vincar as divergências entre socialistas e parceiros de solução governativa. O PCP quer distâncias e já começou a marcá-las.
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, defendeu que os candidatos do PS, PSD e CDS às eleições europeias estão unidos pela mesma "receita", tendo o mesmo modelo de políticas económicas e sociais. E assim colou o PS à direita, como costuma fazer quando fala de temas como a banca ou as leis laborais, apesar de o Partido Comunista Português ter aprovado a "receita" dos orçamentos socialistas desta legislatura.
"Hoje Marques, Rangel e Melo, ou seja PS, PSD e CDS, passam a vida a falar dos candidatos novos e de candidatos velhos. De candidatos competentes e incompetentes, da minha lista que é melhor do que a tua. Fazem disso o principal motivo de diferenciação e estão a fazê-lo porque sabem que o que os distingue no plano das políticas que são essenciais para estruturar uma linha de rumo para a solução da vida do país é nada ou muito pouco", afirmou Jerónimo de Sousa.
O líder comunista falava no almoço comemorativo do 98.º aniversário do partido, que aconteceu no Pavilhão do Clube do Pessoal da Siderurgia Nacional, no Seixal, distrito de Setúbal, onde frisou que os candidatos de direita têm falado "caras e competências para fazer esquecer que a sua receita é a mesma".
Nas eleições para o Parlamento Europeu, segundo Jerónimo de Sousa, os portugueses devem escolher entre "andar para trás e voltar ao caminho que o PS, PSD e CDS impuseram nas últimas quatro décadas", ou avançar com o PCP, através de uma "verdadeira política alternativa ao serviço do povo e do país".
O líder comunista afirmou que Pedro Marques (PS), Paulo Rangel (PSD) e Nuno Melo (CDS) estão unidos nas privatizações das Parcerias Público-Privadas, na defesa da liberalização dos mercados ao serviço dos grandes interesses transacionais, na regressão dos direitos laborais e na defesa da União Bancária.
"Estão unidos na cobertura das decisões do BCE para concretizar, fazendo vista, quando não a participar ativamente na formação de um banco gigante ibérico como pretendem e que há pouco tempo levou o Banif e hoje preparam o terreno para levar o Novo Banco limpinho de dívidas que querem que os portugueses paguem e que PS, PSD e CDS alegremente aceitam", frisou.
A este propósito, Jerónimo de Sousa sublinhou também que "os portugueses não podem contar com os partidos de direita "para conter os desmandos dos banqueiros", até porque "já lá vão mais de 17 mil milhões".
"É por tudo isto que nesta eleição para o Parlamento Europeu a questão não é saber quem melhor defende a União Europeia no País. Esse papel de submissão aos ditames da União Europeia tem sido desempenhado com consequências muito negativas para o país por PS, PSD e CDS. O que importa é ter na União Europeia, no Parlamento Europeu, quem defenda os interesses do povo e do país, ou seja, os deputados eleitos pela CDU", defendeu.
O cabeça de lista da lista da CDU, João Ferreira, também discursou no almoço, afirmando que nas próximas eleições está na mão de cada um decidir se quer continuar com as políticas de direita ou optar por uma nova política patriótica e de esquerda, com a CDU.
Quase um século de dedicação à classe trabalhadora
O Partido Comunista Português celebrou o seu 98.º aniversário este domingo, num almoço com mais de 600 militantes, em que assinalou as vitórias conseguidas este ano, como o passe único, e também as batalhas eleitorais que se aproximam.
"São 98 anos de ininterrupto combate e de uma dedicação sem limites à causa emancipadora da classe operária e dos trabalhadores, do nosso povo", referiu o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
Foi em 1921 que o PCP nasceu, através do movimento operário, e hoje, passados 98 anos, reafirmou a determinação em defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do país, tendo uma razão acrescida para comemorar, devido à celebração dos 45 anos da Revolução do 25 de Abril.
Ainda assim, advertiu que os sucessivos governos do PS, PSD e CDS têm "atacado e destruído muitas dessas conquistas, impondo limitações à democracia e soberania".
Neste sentido, Jerónimo de Sousa lembrou que se aproximam "importantíssimos combates eleitorais", referindo-se às eleições para o Parlamento Europeu, em 26 de maio, e para a Assembleia da República, em 06 de outubro, destacando que é necessária "uma nova política patriótica e de esquerda".
"Batalhas eleitorais que temos que travar ao mesmo tempo que temos que continuar a ação e intervenção desde logo em defesa e valorização do trabalho e dos trabalhadores, pela reposição dos direitos e rendimentos extorquidos nos anos de PEC e de 'troika', pela mão de governos PS, PSD e CDS", afirmou.
Já para mostrar a importância das políticas do partido, Jerónimo de Sousa reclamou para o PCP uma das medidas mais emblemáticas decididas pelo Governo, e que liberta mais rendimento a muitas famílias do que o fim da sobretaxa do IRS ou a devolução dos salários aos funcionários públicos. Para o líder comunista, é uma das conquistas durante este ano: a criação do passe intermodal na Área Metropolitana de Lisboa, com um custo máximo de 40 euros, que permitirá uma "redução significativa nos custos com o uso dos transportes públicos para centenas de milhares de utentes".
Contudo, advertiu que é preciso o "aumento da oferta de transporte", exigindo ao Estado o investimento na modernização e alargamento da oferta ferroviária, rodoviária e fluvial.
Além do setor do transporte, na visão do secretário-geral do PCP, são vários os outros domínios em que é preciso avançar, como a habitação, segurança social e cultura, o que só será possível com uma "rutura com a política de direita e na afirmação de uma política patriótica e de esquerda".
Jerónimo adverte para necessidade de construção de novo hospital no Seixal
O secretário-geral do PCP advertiu ainda para a necessidade de se avançar com a construção do hospital do Seixal, no distrito de Setúbal, uma vez que os utentes são obrigados a "grandes deslocações" em caso de urgência.
No almoço comemorativo, Jerónimo de Sousa defendeu que o Serviço Nacional de Saúde é há muito "alvo de uma grande ofensiva".
"É uma grave situação aquela que existe e os passos dados desde 2016 são manifestamente insuficientes para inverter o rumo de desinvestimento, para resolver os problemas, mas também para concretizar necessidades urgentes de equipamentos, seja de novos centros de saúde, seja a construção do novo hospital do Seixal", afirmou.
Para o líder comunista, os problemas no setor da saúde ampliaram-se com o Governo PSD/CDS-PP, devido ao "desinvestimento" e "favorecimento do negócio privado", o que teve consequências na resposta dos serviços públicos de saúde, na falta de médicos de família e na carência de meios humanos e técnicos nos hospitais, obrigando os utentes a "grandes deslocações" para ter acesso a cuidados de saúde.
Este é o caso do concelho do Seixal, que não tem nenhuma unidade hospitalar e os utentes, em caso de urgência, são obrigados a deslocar-se ao Hospital Garcia de Orta, em Almada, ou ao Hospital de São Bernardo, em Setúbal.
O processo de criação do novo hospital remonta a 2009, quando o Estado assinou um acordo com a Câmara Municipal do Seixal, mas o processo não teve desenvolvimentos nessa altura.
Após alguns avanços e recuos, no Orçamento do Estado para 2017 veio contemplada uma verba para o lançamento do concurso público do projeto de arquitetura e especialidades técnicas para a construção da unidade.
Segundo a autarquia do Seixal, o Governo comprometeu-se com a abertura do concurso público no primeiro semestre de 2017 e tanto o secretário de Estado da Saúde, como a presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo afirmaram publicamente que o equipamento estaria ao serviço da população até ao final de 2019.