Política

Marcelo aterra em Angola depois de nova polémica sobre bairro da Jamaica

João Lourenço, Presidente angolano, e Marcelo Rebelo de Sousa, na conferência de imprensa após o encontro entre os dois no Palácio de Belém
João Lourenço, Presidente angolano, e Marcelo Rebelo de Sousa, na conferência de imprensa após o encontro entre os dois no Palácio de Belém
José Fernandes

Governo português desmentiu ter “pedido desculpas” pela atuação da polícia no caso do bairro da Jamaica. A visita de Marcelo, uma das mais importantes do seu mandato, arranca oficialmente na quarta-feira, mas o presidente aterra já esta terça-feira para o aniversário de João Lourenço

A visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola, que arranca esta terça-feira - embora oficialmente só na quarta -, foi planeada para servir como consolidação à ideia de um novo ciclo entre os dois países, um período de boas relações e a confirmação do sarar de feridas diplomáticas. No entanto, mesmo sem a viagem ter ainda começado oficialmente, Marcelo começará já com um potencial problema entre mãos, com o Governo português a desmentir declarações do Executivo angolano sobre o caso do bairro da Jamaica.

Esta segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros angolano, Manuel Augusto, usou uma conferência de imprensa em Luanda - e o pretexto da visita de Marcelo ao país - para falar sobre o caso e revelar que o seu homólogo português, Augusto Santos Silva, teria tido “a hombridade” de lhe “ligar, não só para apresentar desculpas, mas também para sublinhar a forma, com sentido de Estado, como as autoridades angolanas reagiram”.

O problema é que, segundo o Governo português, não foi isso que aconteceu. Ao Expresso, o ministério dos Negócios Estrangeiros desmentiu ter "pedido desculpas" - uma versão pela qual já estava a ser criticado pelos sindicatos da polícia - confirmando apenas os contactos - telefónico e presencial - entre os representantes dos dois Governos. “O ministro dos Negócios Estrangeiros português não pediu desculpas pelo comportamento da polícia portuguesa. Disse, isso sim, que os resultados dos inquéritos em curso seriam comunicados às autoridades angolanas, logo que disponíveis”, respondeu o gabinete de Santos Silva ao Expresso.

Este deverá ser um dos assuntos com que Marcelo será confrontado pelos jornalistas depois de aterrar em Angola. Mas a sua chegada acontece num clima de boa vontade entre os dois países, meses depois de, também em visita ao país, António Costa ter assegurado que o "irritante" diplomático do caso Fizz - que envolvia o ex-vice presidente angolano, Manuel Vicente - estava resolvido. Ao Expresso, este fim de semana, o presidente português assegurava que "esta é a consolidação de um novo ciclo iniciado com a posse do presidente João Lourenço", isto já depois de fonte do Governo angolano ter antecipado que Marcelo receberá nesta visita "um banho de carinho".

Um dos pontos mais relevantes da visita será o facto de esta acelerar o pagamento de dívidas de Angola a empresas portuguesas, honrando um compromisso que tinha sido assumido por João Lourenço no final do ano passado, quando foi a sua vez de visitar Lisboa. Ao Expresso, o ministro das Finanças angolano, Archer Mangueira, garantia este fim de semana que "foram certificados créditos avaliados em 265 milhões de euros, dos quais já foram pagos 144 milhões", esperando-se que o remanescente fique pago até ao final do primeiro semestre deste ano. Um passo que poderá facilitar novos investimentos portugueses em Angola, esperam as autoridades.

Uma das visitas mais importantes para Marcelo

Marcelo chega na tarde desta terça-feira a Angola, para uma visita que durará quatro dias e que começará, de forma não oficial, pela sua presença no 65º aniversário de João Lourenço. A começar por Luanda, a viagem estender-se-á ainda pelas províncias de Benguela e Huíla.

O programa da sua visita de Estado arranca na quarta-feira de manhã, com a deposição de uma coroa de flores no Memorial Agostinho Neto e um encontro com João Lourenço no Palácio Presidencial, onde haverá igualmente conversações ministeriais, seguido de uma conferência de imprensa conjunta. À tarde, o presidente português discursará numa sessão solene na Assembleia Nacional e encontrar-se-á com estudantes na Universidade Agostinho Neto, onde deu aulas de direito. À noite, terá um jantar oficial oferecido pelo chefe de Estado e de Governo de Angola.

Pela parte do Governo, Marcelo Rebelo de Sousa é acompanhado nesta visita pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, Adjunto e da Economia, Pedro Siza Vieira, e da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, Luís Capoulas Santos, bem como pela secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro.

A visita funciona assim como o culminar de uma série de visitas oficiais entre os representantes dos dois países - depois de António Costa ter estado em Luanda e João Lourenço em Lisboa, no ano passado, cabe a Marcelo fechar este ciclo. Também por isso, a presidência considera que esta visita está entre as duas ou três mais importantes do seu mandato.

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