Política

André Freire: “Os jornalistas só se indignam com o Sr. Orbán ou a esquerda na América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu”

André Freire: “Os jornalistas só se indignam com o Sr. Orbán ou a esquerda na América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu”
josé carlos carvalho

O politólogo André Freire, politólogo e professor do ISCTE, é uma das 100 pessoas, entre escritores, cantores, deputados, economistas, sindicalistas, professores universitários e jornalistas, que assinaram o manifesto “Justiça para a Palestina”, uma iniciativa do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente. No dia em que o documento é apresentado ao público (18h30 desta quinta-feira na Fundação José Saramago, em Lisboa) e em que se cumprem 100 anos da Declaração Balfour, de apoio à criação de um país para os judeus na região da Palestina, o Expresso falou com André Freire. “Os jornalistas, que são sempre tão diligentes a defender os seus direitos - e eu apoio isso, claro - não têm falado sobre isto”

Margarida Mota

Jornalista

André Freire: “Os jornalistas só se indignam com o Sr. Orbán ou a esquerda na América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu”

Helena Bento

Jornalista

Porque decidiu acrescentar o seu nome a este manifesto?
Naturalmente porque me revejo no que está escrito no documento, que tem que ver com a defesa dos direitos da Palestina e do povo palestiniano. Isto não implica, obviamente, não reconhecer também os direitos ao povo judaico. Mas a verdade é que Israel tem incumprido e violado as orientações das Nações Unidas. A construção de colonatos continua e a vida das pessoas na faixa de Gaza é simplesmente impossível - vivem ali num gueto de grande densidade populacional, sitiadas, cercadas. É preciso defender os direitos das duas partes, mas se há uma parte que tem muita força e que tem colocado, aliás, essa força à frente do direito, é Israel e são os judeus. São cometidas violações constantes dos direitos humanos. Os judeus estão a tentar fazer uma política de facto para que, quando chegar a fase das negociações, não haver sequer Cisjordânia, que está já completamente esquartejada.

FOTO AMMAR AWAD/REUTERS

O que espera que possa vir a mudar com a apresentação pública deste documento?
Tem havido uma grande indiferença em relação a este assunto. Os jornalistas, que são sempre tão diligentes a defender os seus direitos - e eu apoio isso, claro - não têm falado sobre isto. Só se indignam com o Sr. Orban [Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria) ou com os tipos de esquerda da América Latina. Quando são os judeus, não se vê grande sururu e, porém, isto é uma coisa muito grave. Em Portugal não houve praticamente discussão alguma. Repito: o Estado judaico tem violado todas as orientações e normativas das Nações Unidas, impedindo o povo palestiniano de ter uma vida minimamente digna, nomeadamente na faixa de Gaza. A perseguição de que os judeus foram alvo não pode servir para justificar tudo mais de 50 anos depois. É preciso inverter este processo. Até porque, com o novo inquilino na Casa Branca, a situação parece-me estar ainda mais difícil do que já estava, sobretudo no terreno, que está claramente pior. É preciso tomar uma posição e é por essa razão que o meu nome é um dos que consta do manifesto.

O conflito entre Israel e Palestina dura há décadas. O que acha que tem falhado na aproximação entre as duas partes?
Tem havido várias falhas e uma delas, na minha opinião, tem que ver precisamente com o posicionamento das grandes potências, nomeadamente os EUA, que deveriam pressionar os judeus para encontrar uma solução e não o têm feito. Os próprios judeus têm falhado, ao desrespeitarem as orientações das Nações Unidas, ao expandirem de forma indefinida e indeterminada os colonatos e ao aplicarem políticas de punição coletiva, nomeadamente quando há alguém que escolhe uma via mais radical e comete atentados, sendo depois punidos os membros da sua família. Tudo isso não tem ajudado. Não acho que a responsabilidade pela falta de um entendimento seja só de um lado. Não penso que seja isso e também não vale a pena entrar em maniqueísmos. Agora, não tenho dúvidas sobre qual o lado que tem estado com uma política de facto, de força, e sobre quem saído mais favorecido. Tudo isto tem destruído os países à volta, nomeadamente o Líbano.

Acredita que poderá haver, em breve, uma solução para o conflito?
Confesso que não estou muito otimista. Esta situação arrasta-se há décadas. E a geopolítica atual é provavelmente das mais desfavoráveis. Houve um sinal de mudança por parte de Barack Obama, mas agora a situação está bem mais complicada. Basta ver a abordagem atual dos israelitas, que é bastante mais musculada.

Lista dos 100 signatários do manifesto "Justiça para a Palestina"

Adel Sidarus, Professor universitário
André Freire, Politólogo, professor do ensino superior
André Pinotes Baptista, Deputado do PS
Aniceto Afonso, Coronel, historiador
Anselmo Dias, Bancário
António Arnaut, Advogado, ex-deputado do PS
António Avelãs Nunes, Professor universitário
António Delgado Fonseca, Oficial do Exército
António Madeira Bárbara, Embaixador
António Redol, Engenheiro
Aristides Gonçalves Leitão, Jurista
Arménio Carlos, Dirigente sindical
Augusto Flor, Antropólogo, dirigente associativo
Augusto Praça, Dirigente sindical
Avelino Gonçalves, Sindicalista bancário
Boaventura Sousa Santos, Professor universitário
Bruno Dias, Deputado do PCP
Carla Miranda, Deputada do PS
Carlos Alberto Moniz, Compositor, intérprete
Carlos Almada Contreiras, Almirante
Carlos Almeida, Historiador
Carlos Araújo Sequeira, Jurista
Carlos Esperança, Escritor, jornalista
Carlos Fragateiro, Professor universitário
Carlos Matos Gomes, Coronel, escritor
Carlos Moutinho de Macedo, Jurista
Cláudio Torres, Director do Campo Arqueológico de Mértola, prémio Pessoa
Deolinda Machado, Sindicalista
Diana Andringa, Jornalista
Fernando Rosas, Professor universitário
Fernando T. Marques, Actor
Francisco Assis, Eurodeputado do PS
Francisco Duarte Mangas, Escritor
Francisco Fanhais, Cantor
Frederico Gama de Carvalho, Investigador científico, VP da Fed. Mundial Trabalhadores Científicos
Frei Bento Domingues, Teólogo dominicano
Hélder Costa, Encenador
Helena Pato, Professora
Helena Rato, Economista
Ilda Figueiredo, Economista
Isabel Allegro de Magalhães, Professora universitária
Ivan Gonçalves, Deputado do PS
Jamila Madeira, Deputada do PS
Joana Mortágua, Deputada do BE
Joana Vilaverde, Artista plástica
João Corregedor da Fonseca, Jornalista
João Duarte Freitas, Médico
João Ferreira, Eurodeputado do PCP
Joaquim Correia, Advogado
Jorge Bateira, Professor universitário
Jorge Cadima, Professor universitário
Jorge Figueiredo, Editor resistir.info
Jorge Pé-Curto, Escultor
José António Gomes, Escritor, professor do ensino superior
José Baptista Alves, Coronel engenheiro
José Barata-Moura, Professor universitário
José Costa Neves, General
José Duarte, Jornalista, divulgador musical
José Ernesto Cartaxo, Sindicalista
José Fanha, Escritor, poeta
José Goulão, Jornalista
José Luís Ferreira, Deputado do PEV
José Manuel Pureza, Professor universitário, deputado do BE
José Manuel Rodrigues, Artista plástico, prémio Pessoa
José Neves, Fundador do Partido Socialista
Júlio de Magalhães, Economista
Levy Baptista, Advogado
Lumena Raposo, Jornalista
Mamadu Ba, Advogado
Manuel Alegre, Escritor e poeta
Manuel Begonha, Capitão de Abril
Manuel Duran Clemente, Capitão de Abril
Manuel Figueiredo, Economista
Manuel Freire, Cantor, compositor
Manuel Martins Guerreiro, Almirante
Manuel Valadares, Jurista
Manuela Tavares, Professora, dirigente da UMAR
Maria do Céu Guerra, Actriz, directora d' A Barraca
Marília Villaverde Cabral, Coordenadora da URAP
Mário Beja Santos, Escritor
Mário Pádua, Médico
Marisa Matias, Eurodeputada do BE
Micaela Miranda, Encenadora em Jenin, Palestina
Miguel Viegas, Eurodeputado do PCP
Modesto Navarro, Escritor
Paulo Carvalho, Cantor
Pedro Bacelar de Vasconcelos, Deputado do PS
Pedro Borges, Jurista
Pedro Penilo, Artista plástico
Pedro Pereira Leite, Professor universitário
Pedro Pezarat Correia, General
Pedro Santarém, Engenheiro mecânico
Pilar del Río, Presidenta da Fundação José Saramago
Regina Marques, Dirigente do MDM
Rego Mendes, Coordenador nacional do Movimento Erradicar a Pobreza
Ribeiro Cardoso, Jornalista
Rui Coelho e Campos, Jurista
Rui Namorado Rosa, Investigador, professor universitário
Santiago Macias, Professor universitário
Sérgio Machado Letria, Programador cultural
Valter Hugo Mãe, Escritor
Vânia Dias da Silva, Deputada do CDS
Vasco Lourenço, Coronel
Victor Cavaco, Engenheiro do ambiente
Zeferino Coelho, Editor

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