Política

PCP denuncia “falsos estágios” em série para a RTP

As gravações da nova série da RTP2 deverão arrancar já em setembro
As gravações da nova série da RTP2 deverão arrancar já em setembro
João Carlos Santos

Anúncio da produtora Dianacross enviado para alunos da Lusófona pede estagiários para oito funções

PCP denuncia “falsos estágios” em série para a RTP

Adriano Nobre

Jornalista

A série tem estreia agendada para 2018, na RTP2. Chama-se “Os Idiotas”, a primeira temporada terá 13 episódios, emissão no horário nobre de domingo e protagonistas como Salvador Sobral, Vítor Norte ou Sónia Balacó. As filmagens irão ocorrer entre 18 de setembro e 17 de novembro e estarão a cargo da produtora Dianacross, da empresa Brand New Territories, a quem a RTP comprou o formato. Na equipa de produção estarão, por exemplo, e como é habitual, um chefe eletricista, um diretor de arte, um assistente de produção, dois assistentes de imagem, um assistente de som, um responsável pelo figurino e outro pela maquilhagem. Menos comum é a possibilidade de esses cargos serem ocupados por estagiários.

A denúncia foi feita pelo grupo parlamentar do PCP através de uma pergunta enviada ao Ministério do Trabalho sobre uma “série com estreia prevista na RTP” que “recorre a falsos estágios para ocupação de postos de trabalho”. Em causa estão as oito funções citadas, incluídas num anúncio da Dianacross enviado pela Direção de Relações Internacionais,

Estágios, Emprego e Empreendedorismo da Lusófona para alunos daquela universidade.
No anúncio em causa, a Dianacross justifica a intenção de “incorporar na equipa” estes oito estagiários com o facto de ser “uma produtora pequena, mas cheia de vontade e que está agora a dar os primeiros passos”. E embora peçam “alunos já com algum tipo de experiência, ainda que académica”, os estágios não serão remunerados. “Serão comparticipados com ajudas de custo e alimentação”, refere o anúncio, adiantando que “nos casos mais seniores poderá ainda existir um cachê simbólico”.

Para os deputados do PCP, a leitura deste anúncio torna “evidente” que “a empresa está a tentar recrutar estagiários para assumirem funções sem as quais a produção nunca sequer poderia ocorrer”. Uma situação que, no entender dos comunistas, configura uma “iminente ilegalidade” e que deve levar o Governo a atuar.

Contactada pelo Expresso, Maria Magalhães, a sócia gerente da Brand New Territories — que detém a produtora Dianacross — defende, no entanto, que a denúncia do PCP resulta de uma análise descontextualizada ao anúncio e garante que as funções em causa serão “ocupadas por profissionais experientes”, a que eventualmente se juntarão depois os referidos estagiários.

Segundo a mesma responsável, a equipa de produção deverá ter cerca de 20 elementos e um “orçamento que serve perfeitamente para garantir a qualidade do projeto”. O eventual recurso a estagiários, de resto, ainda não está decidido, diz Maria Magalhães. A Brand New Territories, acrescenta, “não tem, nem nunca teve, nenhum estágio ilegal ou até mesmo qualquer colaborador em regime de estágio” e se decidir “recorrer a trabalhadores estagiários no futuro”, isso “será sempre efetuado através de programas de estágios aprovados legalmente ou através de qualquer protocolo que venhamos a estabelecer com universidades ou com quaisquer entidades, sempre no cumprimento da lei”.

Os responsáveis da Dianacross e da RTP não estiveram disponíveis para comentar qual o valor do contrato ou o orçamento para a produção desta série. A RTP, de resto, coloca-se à margem das suspeitas levantadas pelo PCP. “Em janeiro de 2017, acertámos os trâmites financeiros e legais habituais e fizemos um contrato com a Brand New Territories, em termos em tudo semelhantes ao que fazemos com outras propostas. A nossa relação com esta produtora é a mesma que já tivemos com muitas outras a começar a sua carreira”, esclarece Teresa Paixão, diretora da RTP2. “Por nós, está tudo em conformidade com os restantes contratos, ou seja, confiamos na qualidade do projeto, confiamos na capacidade de o produzirem e tratámos legalmente com a empresa do mesmo modo que tratamos com outros produtores”, conclui.

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