O dia em que o ministro da Defesa viu um grupo de jornalistas a irem (quase) pelos ares
Coluna militar é atingida por um engenho explosivo improvisado e emboscada pelo inimigo
Marcos Borga
Sobrevoava Azeredo Lopes uma coluna militar dos Fuzileiros onde seguiam uma dúzia de jornalistas quando um dos veículos é atingido por uma (quase) explosão. Aconteceu esta terça-feira durante uma demonstração de capacidades de combate da Marinha. Para ministro ver…
Pinheiro da Cruz, terça-feira, 18 de julho. Pouco passava das 15h quando uma coluna militar onde seguiam uma dúzia de jornalistas e outros tantos Fuzileiros é surpreendida com a explosão de um suposto engenho improvisado que deixa inutilizada uma das viaturas. Os unimogues onde viajavam os media lançam-se para as bermas libertando a estrada. Quando as restantes viaturas táticas armadas do pelotão anticarro, equipadas com metralhadoras e lança-granadas, davam meia volta e tentavam abandonar rapidamente o local, eis que são surpreendidos por forças inimigas. Respondem ao fogo com fogo e batem em retirada.
“Nada faria supor que após a explosão do engenho explosivo improvisado (IED na sigla inglesa) seriamos alvo de emboscada”, explica aos jornalistas o capitão-tenente Frederico Côrte-Real. “Como puderam ver — prosseguiu o comandante das Força de Fuzileiros n.º 1 — as viaturas aumentaram as distâncias para iniciar procedimentos de contra-IED e no meio dessa situação, com o surgimento de forças opositoras, reagiram rapidamente fazendo fogo de supressão de forma a que uma das viaturas pudesse retrair e extrair em segurança os elementos que ficaram feridos bem como fazer a detonação da viatura que ficou inutilizada.”
A esta emboscada assistiu Azeredo Lopes do ar, a bordo de um Lynx MK-95, o helicóptero ligeiro da Marinha, em voos circulares sobre militares e jornalistas. Foi apenas uma das várias demonstrações de capacidades de combate integradas no Exercício Prontex 17, a que o ministro da Defesa teve oportunidade de assistir esta terça-feira.
Fogo real
Já com os pés em terra, ou para ser rigoroso na poeirenta areia das dunas de Pinheiro da Cruz, Azeredo Lopes haveria de assistir a uma sessão de tiro real de combate, sempre acompanhado pelo chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Silva Ribeiro, pelo comandante naval, vice-almirante Gouveia e Melo, e pelo comandante do Corpo de Fuzileiros, comodoro Nobre de Sousa.
"O que vai acontecer aqui é uma ação conduzida em duas fases. Numa primeira fase será atacada uma posição inimiga e numa segunda fase esses militares batem em retirada porque a força opositora envia para o local uma patrulha motorizada”, explicou aos jornalistas o comandante Côrte-Real. Nesse momento, prossegue o comandante da Força de Fuzileiros n.º 1, “o elemento de apoio de combate está a fazer fogo de supressão de forma a potenciar a capacidade de sobrevivência da força que está lá em baixo”. São estes militares, posicionados a algumas centenas de metros do alvo, num ponto mais elevado, que dão cobertura à movimentação dos seus camaradas junto do objetivo.
Neste exercício, que durou cerca de dez minutos, foram efetuados centenas de disparos de munições reais, usando desde espingardas automática G-3, a metralhadora Browning 12.7 mm, bem como os lança-granadas foguete Carl Gustav.
De paraquedas para a água
Antes de almoçar e de ser bombardeado com mais algumas perguntas sobre o assalto aos Paióis Nacionais de Tancos, durante o habitual encontro com a imprensa, Azeredo Lopes teve oportunidade de ver como é que um qualquer navio tomado por piratas, no Golfo da Guiné (não seria a primeira vez), poderia ser recuperado pelo Destacamento de Ações Especiais.
Esta unidade de elite dos Fuzileiros, criada há mais de 30 anos, está treinada e preparada para cumprir este tipo de missões de diversas formas. Desta feita, partindo do pressuposto de que o navio em causa estaria em alto mar a muitas centenas de milhas da costa, a força foi projetada a partir de um avião C-130 da Força Aérea, saltando de paraquedas para a água. O salto dos militares é antecedido pelo lançamento de dois botes de borracha e respetivos motores, uma tarefa apoiada pelos paraquedistas que preparam a carga.
Assim que caem na água, os DAE libertam-se dos paraquedas e nadam ao encontro dos botes. Lançados a 1250 pés de altitude (cerca de 380 metros) e usando um paraquedas de abertura automática (abre automaticamente assim que os saltadores deixam a aeronave), demoram menos de um minuto a tocar na água. Trazem vestido um fato de neoprene que lhes permitirá ajudar a suportar as baixas temperaturas, colete tático onde transportam carregadores adicionais entre outros equipamentos e, claro, o seu armamento. Nadam até aos botes com a ajuda de barbatanas que já trazem calçadas do avião. Cair junto deles, para não ter de nadar e permanecer na água durante muito tempo, é um dos fatores críticos para o sucesso deste tipo de missões.
E agora?
Quando na próxima sexta-feira for dado por concluído o Prontex 17 e a Força de Fuzileiros n.º 1, uma das sete unidades operacionais do Corpo de Fuzileiros composta por 153 homens, for dada como certificada para poder ser projetada, o Presidente da República também estará reunido com o Conselho Superior de Defesa Nacional.
Para além do assalto aos Paióis Nacionais de Tancos, durante o encontro do comandante supremo da Forças Armadas com os seus principais conselheiros em assuntos militares, é bem provável que seja discutido o destacamento de uma força nacional para o Afeganistão, já admitido no parlamento pelo ministro da Defesa a 7 de junho.
Nem seria a sua estreia a estas latitudes. Os Fuzileiros já por ali estiveram em 2009 integrados na Força de Proteção do Aeroporto Internacional de Kabul, uma missão exigente que expôs os militares a perigos reais. Será que Azeredo Lopes ficou convencido de que estão prontos para ali voltar?