Política

Parlamento Europeu em guerra aberta para eleger sucessor de Schulz

ADEUS. Martin Schulz anunciou em novembro que abandonava o PE para concorrer nas próximas legislativas alemãs, em 2017
ADEUS. Martin Schulz anunciou em novembro que abandonava o PE para concorrer nas próximas legislativas alemãs, em 2017
reuters

Esta terça-feira deverá ser um dia longo para escolher um novo presidente do Parlamento Europeu. Há seis candidatos

Parlamento Europeu em guerra aberta para eleger sucessor de Schulz

Raquel Albuquerque

em Estrasburgo

A eleição do sucessor de Martin Schulz decorre esta terça-feira em Estrasburgo. Os eurodeputados portugueses antecipam um dia longo e de emoções, depois de ter sido quebrado o entendimento entre populares e socialistas na escolha prévia do vencedor. Há seis candidatos, mas a luta final deverá fazer-se entre os italianos Antonio Tajani (PPE) e Gianni Pittella (S&D).

Na véspera da eleição do novo presidente, o ambiente no Parlamento Europeu está “agitado” e espera-se para terça-feira “um dia de emoções”, dizem os eurodeputados. É que pela primeira vez em muito tempo desfez-se o entendimento prévio entre os dois maiores grupos políticos europeus, PPE e S&D, de apoiarem o mesmo candidato. Portanto, a votação arranca sem que se saiba o vencedor e há quem veja nisso um “regresso da política” à instituição europeia.

O acordo existente previa que o atual presidente, o alemão Martin Schulz, do grupo dos socialistas e democratas (S&D), fosse substituído por um candidato do PPE, em quem os socialistas votariam esta terça-feira. O nome escolhido pelos populares foi o de Antonio Tajani, 63 anos, ex-jornalista, próximo de Silvio Berlusconi, eurodeputado durante 14 anos e ex-comissário da equipa de Durão Barroso. Porém, os socialistas avançaram com um candidato próprio: Gianni Pittella, 58 anos, médico, ex-deputado em Itália e membro do Parlamento Europeu desde 1999.

Na semana passada o ambiente ficou mais tenso, com trocas de acusações entre os dois grupos políticos. O pico aconteceu quando o presidente do PPE, Manfred Weber, divulgou o acordo – que afinal era escrito e não apenas verbal - e que foi assinado em 2014 pelo PPE e o S&D, ao qual se juntaram os liberais (ALDE), liderados por Guy Verhofstadt, ex-primeiro-ministro belga. Também ele era candidato à presidência do Parlamento Europeu mas acabou por desistir esta terça-feira, anunciando uma aliança com o PPE para apoiar Antonio Tajani.

“Não há dúvida de que há uma violação do acordo”, defende o eurodeputado português Paulo Rangel (PPE), reconhecendo, no entanto, algum sentido ao argumento avançado pelos socialistas sobre o equilíbrio que deixaria de existir entre os dois grupos na presidência das três grandes instituições europeias. Isto porque o Parlamento, o Conselho Europeu (com Donald Tusk) e a Comissão Europeu (com Jean-Claude Juncker) passariam a estar os três liderados por membros do PPE.

“Quando esse acordo foi assinado ainda não tinha sido nomeado o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, do PPE", explicou ao Expresso o eurodeputado socialista Carlos Zorrinho. Essa alteração, acrescenta, “alimentou a expectativa de Schulz de que havendo essas duas pessoas do PPE, o acordo cairia”. Reconhecendo que se vive um ambiente “agitado” na instituição, o eurodeputado lembra que recentemente o jornal “Politico” definiu este momento como o “regresso da política” ao Parlamento Europeu. “Haver candidatos para todos os gostos não é mau. É o reflexo do ambiente geral que se vive.”

Para Paulo Rangel, porém, a “rutura do acordo” poderá ter impacto na estabilidade e consenso existente entre os dois grupos na Comissão Europeia e não duvida de que tenha “influência” na aliança entre PPE e S&D. “A primeira consequência é passarem a estar numa situação de tensão.”

É a essa “grande coligação” que o eurodeputado comunista João Ferreira deixa críticas, sustentando que não é só na repartição de lugares que existe acordo. “Existe na convergência de políticas que têm vindo a ser assumidas”, dando o exemplo da governação económica, acordos de comércio ou opções em termos de política externa. “Há uma coincidência total destas duas famílias políticas.”

Também Marisa Matias, eurodeputada bloquista, lembra que a eleição desta terça-feira tem um lado quase inédito, porque não é uma “ratificação” de um vencedor mas sim uma votação. “Não há muita memória de casos como este”, afirma, confessando que será “um dia de emoções”.

Os seis candidatos que vão a votos

Esta terça-feira, os 751 deputados do Parlamento Europeu irão votar secretamente num dos seis candidatos. A votação terá início durante a manhã e poderá chegar a um máximo de quatro voltas - que terminarão só ao final da noite. Para que um candidato ganhasse à primeira volta teria de ter maioria absoluta (377 votos dos 751). Contudo, para a primeira votação da manhã espera-se que cada grupo vote no seu candidato, sendo no entanto um momento importante para perceber a "fidelidade e consenso" de cada grupo, o que ajudará a perceber o ambiente da votação.

À quarta ronda, a última, vão a votos os dois candidatos que tiverem tido mais votos. Em caso de empate, ganha o mais velho, de acordo com as regras. A disputa final deverá fazer-se entre Antonio Tajani (PPE) e Gianni Pittella (S&D): os populares têm 217 assentos e os socialistas têm 189, mas será preciso ver a votação dos restantes grupos.

Para além de Antonio Tajani, e Gianni Pitella, há outros quatro nomes em jogo. Pelo grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus, é avançada a candidata belga Helga Stevens. A britânica Jean Lambert é a candidata dos Verdes enquanto a Esquerda Unida, a que pertence o Bloco de Esquerda e o PCP, avança outra candidata italiana - Eleonora Forenza. O Partido da Europa das Nações e da Liberdade, que representa a extrema-direita, propôs o romeno Laurenţiu Rebega para liderar o Parlamento.

O presidente é eleito por dois anos e meio. Schulz foi o primeiro presidente da história do Parlamento a exercer dois mandatos seguidos, de 2014 a janeiro de 2017, e com a saída da instituição europeia irá regressar à política alemã.

[notícia atualizada às 9h54]

O Expresso viajou a convite do Parlamento Europeu

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