Política

PCP quer nacionalização do Novo Banco em vez da entrega aos “megabancos europeus”

PCP quer nacionalização do Novo Banco em vez da entrega aos “megabancos europeus”
Nuno Botelho

Comunistas defendem que supervisão do sistema bancário é um “gigantesco embuste” e apresentam no Parlamento projeto para que Novo Banco não volte às mãos de privados

PCP quer nacionalização do Novo Banco em vez da entrega aos “megabancos europeus”

Filipe Santos Costa

Jornalista da secção Política

O anúncio foi feito durante o debate do Orçamento do Estado, pelo deputado Miguel Tiago: o PCP iria formalizar uma proposta para a nacionalização definitiva do Novo Banco (NB). “Já que pagámos o banco, ao menos que fiquemos com ele”, justificou o parlamentar comunista. A promessa foi cumprida ainda durante o debate orçamental, com a entrega de um projeto de resolução para a “manutenção do Novo Banco na esfera pública, assegurando a sua propriedade e gestão pública ao serviço dos interesses do povo e do país”.

Uma proposta que corresponde a ideias de sempre do PCP e que é bem vista pela bancada do BE e por alguns setores do PS. E que tem a coincidência de surgir um dia depois de o mesmo caminho ter sido admitido por Vítor Bento, o economista de direita que foi o primeiro responsável pelo banco criado depois da ruína do BES.

Para o PCP, manter o NB em mãos públicas é a única forma de impedir que seja entregue ao “capital transnacional, agravando o trespasse de riqueza para o estrangeiro e a perda de capacidade de intervenção e de soberania do país”. “A experiência tem mostrado que o controlo público da banca é a única forma de conservar o sistema bancário nacional. A privatização das instituições financeiras conduz, mais cedo ou mais tarde, à sua aquisição ou domínio, devidamente expurgadas dos ativos tóxicos e recapitalizadas nomeadamente com fundos públicos, por parte dos megabancos europeus, como confirmou recentemente a entrega do Banif ao Santander”, constatam os comunistas.

Invocando a história recente da banca nacional, desde o colapso do BPN, o PCP denuncia a “irrazoabilidade de permitir que o sistema financeiro se mantenha gerido, detido e ao serviço dos grandes grupos económicos”, seja pela sua “importância no funcionamento da economia”, seja “pelos custos que a banca tem representado para os trabalhadores portugueses”.

O “gigantesco embuste” da supervisão

À semelhança do que tem denunciado nos sucessivos escândalos que têm sacudido a banca portuguesa, os comunistas não perdoam o falhanço da regulação e supervisão, que classificam como “um gigantesco embuste”. “Na verdade”, lê-se no projeto de resolução, “a atividade das instituições financeiras é regulada apenas na medida dos interesses dos próprios grupos económicos que as comandam e mantêm cativos os reguladores e supervisores”.

“Todo o sistema de controlo da banca não passa de uma encenação com vista a iludir as populações e a forjar a confiabilidade das instituições”, denuncia o texto que tem Miguel Tiago como primeiro subscritor. E aponta o dedo ao Banco de Portugal, que “funciona apenas como branqueador dos problemas da banca perante o povo”, não apenas por causa da “inépcia” e “comprometimento político e ideológico dos seus responsáveis”, mas por razões sistémicas: a “matriz corrupta, de subordinação mais ou menos legal do poder político ao poder dos grandes grupos económicos, que define o próprio funcionamento do sistema financeiro no contexto do capitalismo.”

Nacionalizar tudo, não só prejuízos

A resposta, neste caso, diz o PCP, é manter o NB em mãos públicas, depois de lá ter injetado capitais públicos. Não uma nacionalização permanente de prejuízos e transitória de ativos, mas uma nacionalização definitiva. “O que o PCP propõe e defende é que ao capital público corresponda a utilização da instituição ao serviço do interesse público e não a sua preparação para a entrega a novos ou velhos grupos económicos ou financeiros a preço de saldo. A ‘nacionalização’, entendida pelos governos de PS, PSD e CDS até aqui, tem significado apenas a nacionalização transitória da atividade da instituição e a nacionalização permanente do seu prejuízo”.

Quanto aos problemas que essa solução poderá implicar, o PCP descarta-os um por um. O custo para o Estado com a operação? “Para todos os efeitos, o capital do Novo Banco atualmente é exclusivamente público e uma operação de assunção política da sua direção poderia enquadrar-se nos gastos públicos já assumidos”, respondem os comunistas. Os custos futuros com a gestão do banco? “A detenção do capital de bancos pelo Estado responsabiliza diretamente o Estado pelas necessidades de capital das instituições, bem como pela sua liquidez. Contudo, tal responsabilidade já existe, como financiador de último recurso num contexto em que o Estado está impedido de controlar politicamente as instituições de crédito e fortemente limitado pelas regras impostas pela Autoridade da Concorrência da Comissão Europeia e pelos constrangimentos de política monetária da União Europeia”, atalha o PCP.

Nem as experiências do passado desmotivam a bancada comunista. Pelo contrário. “Na verdade, durante o período entre 1975 e 1992 em que a banca esteve sob controlo público – político e acionista –, os bancos cresceram, mantiveram uma atividade concorrencial e o financiamento à economia nacional pública e privada”, frisam os comunistas.

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