Política

Quando Sampaio defendeu a honra de Cavaco e calou um apoiante

Quando Sampaio defendeu a honra de Cavaco e calou um apoiante

Jorge Sampaio nunca foi o político habitual, muito menos em campanha no terreno. Às vezes desconcertava os seus próprios apoiantes, como na vez em que deu um raspanete público a um apoiante que resolveu chamar “ladrão” a Cavaco Silva, seu opositor nessas presidenciais. A menos de um mês das legislativas, revisitamos as nossas memórias políticas. Este é o sexto capítulo

Quando Sampaio defendeu a honra de Cavaco e calou um apoiante

Pedro Cruz

jornalista da SIC

Estava uma manhã fria, muito fria, no Alto Minho - já não sei bem onde, talvez Ponte da Barca. O dia de pré-campanha ainda estava a começar, nem digo a aquecer porque o frio do Alto Minho consegue ser cortante no inverno.

Em 1995, Jorge Sampaio corria para Belém pela primeira vez, tinha Cavaco Silva como principal adversário, o homem que tinha deixado de ser primeiro-ministro poucos meses antes e que queria chegar a Belém. Sampaio entra num café estreito, balcão do lado direito, duas ou três mesas do lado esquerdo. O candidato vai para beber a bica, estavam duas ou três pessoas lá dentro. Há um apoiante, um homem alto, de pé junto ao balcão, que diz:

- Camarada, bem-vindo!

Sampaio retribui o cumprimento, trocam duas ou três palavras, diz o homem:

- Vê lá se dás cabo desse ladrão, desse bandido que nos andou a roubar estes anos todos...

Sampaio faz má cara, acena com a cabeça que não... O apoiante continua:

- É um ladrão que aí anda, um gatuno...

E vai por aí fora, num chorrilho interminável de insultos.

A certa altura, Jorge Sampaio ergue o dedo indicador direito, fica encolerizado, furioso mesmo, não está muita gente dentro do café, ouve-se bem, e diz ao apoiante:

- Não diga mais nada! O professor Cavaco Silva nunca roubou nada a ninguém, é um homem decente, não lhe roubou nada a si.

E continua, de dedo em riste, dá um ralhete ao apoiante, diz que não quer ataques pessoais, pede-lhe para não continuar a conversa naquele registo, que está a insultar um homem que não está ali para se defender, apesar de ser seu adversário.

Não quer que a campanha corra assim, não é pelo insulto que lá quer chegar.

O apoiante fica sem palavras, emudece, ruboriza com o vexame, ainda balbucia qualquer coisa. Sampaio já está sem paciência, ainda mal começou o dia de campanha, sai do café, já não me lembro se à saída cumprimentou o apoiante nem recordo se chegou a tomar a bica.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate