Convenção dos democratas começa hoje. O que é que Kamala Harris tem de fazer para traduzir em votos o entusiasmo da campanha?
Antes de Joe Biden ter anunciado que não iria tentar a reeleição, muitos democratas esperavam esta semana com apreensão e até com alguma ansiedade. As suas prestações públicas eram difíceis de prever, e a sua falta de energia tinha minado o entusiasmo das bases. Mas em um mês tudo mudou, e o partido parece ter recebido uma forte injeção de adrenalina que se vê nas ruas, nos painéis de comentário na televisão e nas redes sociais. Nada disso quer dizer que Kamala Harris tenha a eleição no bolso
Kamala Harris e Tim Walz durante um comício na Pensilvânia, um Estado decisivo
Elizabeth Frantz/REUTERS
Kamala Harris conseguiu algumas coisas inesperadas nas três semanas que passaram desde que Joe Biden se retirou da corrida à Casa Branca, entre elas a capacidade de energizar o partido, colar-se a Trump em várias sondagens e fazer o outro lado parecer cansado e “já visto”, quando quem fez parte de um Executivo nos últimos quatro anos foi a própria e poderia, por isso, ter uma imagem desgastada.
Mas nada disso quer dizer que a eleição esteja próxima de estar ganha, muito longe disso.
Harris fez uma má campanha quando tentou ser a nomeada em vez de Biden há quatro anos, que não teve uma vice-presidência assim tão fulgurante, aliás, bem pelo contrário, está conotada com as falhas na fronteira dos Estados Unidos com o México e com a subida na inflação e, como se viu no debate que arrasou a sua campanha em 2020, o seu passado como procuradora presta-se a interpretações que não lhe são favoráveis: e tanto os democratas, quanto os republicanos encontram nesse passado material para a criticar. Isto para não falar de que, por esta altura, Hillary Clinton tinha sondagens muito mais favoráveis e todos sabemos o que aconteceu em 2016: Clinton perdeu.
Por tudo isto, a Convenção Democrata vai ter se funcionar como um balão de oxigénio para os próximos meses, e tanto Harris quanto Tim Walz, governador do Minnesota que Harris escolheu para ocupar o lugar de vice-Presidente vão ter de aproveitar a enorme atenção mediática para dissolver os medos de que estes ticket seja demasiado progressista para governar o país.
Neste episódio de O Mundo a Seus Pés ouvimos uma mensagem de voz da colaboradora do Expresso Paula Alves, que está nos Estados Unidos, e recebemos em estúdio Germano Almeida, especialista em Assuntos Internacionais, autor de vários livros sobre política norte-americana e comentador da SIC e David Dinis, diretor-adjunto do Expresso que mantêm um olho muito atento ao outro lado do Atlântico, onde esteve em reportagem precisamente há quatro anos, nas últimas presidenciais.