A captura do poder pela via militar em África “não é novidade”, mas o seu regresso é “muito preocupante”
A tendência para o ressurgimento de tentativas inconstitucionais de deposição de líderes deve ser enquadrada num contexto de “deterioração da confiança nas instituições que representam a democracia” e de “insubordinação dos militares face aos políticos”, defende a professora e investigadora Alexandra Magnólia Dias. Oiça aqui o podcast O Mundo a Seus Pés
Os confrontos de 26 de novembro na capital da Serra Leoa resultaram em 21 mortes no que as autoridades descrevem como “uma tentativa falhada de golpe de Estado”. A instabilidade que se vive em Freetown desde então segue-se a dois golpes no continente africano em pouco mais de um mês: primeiro no Níger a 26 de julho, depois no Gabão a 30 de agosto.
Numa análise mais abrangente, o período de acalmia desde a viragem do século foi interrompido em 2020. “A incidência de golpes de Estado era a norma mais do que a exceção. Estamos a assistir agora a um regresso que não é uma novidade, mas que é muito preocupante”, diz Alexandra Magnólia Dias, professora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais.
Esta tendência para o ressurgimento da “captura do poder pela via militar” e os “desafios de segurança” que coloca devem ser enquadrados num contexto de “deterioração da confiança por parte do eleitorado nas instituições que representam a democracia” e de “insubordinação dos militares face aos políticos”, acrescenta a académica.
“A elite militar continua empenhada em capturar o Estado, e a captura do Estado é importante na medida em que permite o acesso a recursos críticos”, sublinha ainda Alexandra Magnólia Dias, a convidada de um episódio conduzido pelo jornalista Hélder Gomes e com sonoplastia de Salomé Rita.
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