O Futuro do Futuro

Alunos que vêm do sul da Ásia “brilham no ensino público”, só é preciso “dar-lhes ferramentas para aprenderem português”

Chegada de novos alunos tem mantido e recuperado “escolas que estavam a fechar”. “Estamos com uma saúde demográfica diferente", realça Francisco Pires de Miranda em entrevista ao podcast “O Futuro do Futuro”

Alunos que vêm do sul da Ásia “brilham no ensino público”, só é preciso “dar-lhes ferramentas para aprenderem português”

Pedro Miguel Coelho

Jornalista e coordenador das redes sociais do Expresso

A “Class of Wonders”, startup portuguesa que, a partir de uma metodologia de gamificação, lançou dois jogos que facilitam a aprendizagem de numeracia e literacia, tem sido decisiva na integração de crianças migrantes ou filhas de pais estrangeiros e que contactam pela primeira vez com a língua portuguesa. Francisco Pires de Miranda, CEO e fundador, fala disso no podcast “O Futuro do Futuro”.

“Os novos alunos que temos, agora do Sul da Ásia, são bons alunos, em regra são da ‘elite’ dos países de origem, e por isso têm grande capacidade de progressão, só não sabem ainda falar português”, realça. “E quando se dá as ferramentas para que progridam, eles brilham nos nossos sistemas públicos e isso fica muito óbvio para as escolas que os acolhem”, adianta.

Estes jogos facilitam algo fundamental para o desenvolvimento: que estes alunos estejam integrados em turmas com alunos portugueses. “Porque tu aprendes é com os teus pares, que são locais”, assinala, sublinhando também o contributo que esta integração dá para a aprendizagem da cultura e língua portuguesas, e também para que os alunos portugueses “conheçam outros hábitos e outras realidades”.

Em entrevista ao podcast “O Futuro do Futuro”, do Expresso, este empreendedor explica que este é mesmo “o mais novo problema premente da escola pública portuguesa”, dado que “já são 14% de alunos migrantes em todo território” e, sublinha, é mesmo em todo o território. “Esta ilusão, que eu também tinha, de que isto acontece nos grandes centros urbanos até é ao contrário”, explica. “Em certos sítios mais rurais, por causa da proveniência de mão de obra para a agricultura, há muitas escolas a ter [alunos estrangeiros]”, detalha.

Alunos estrangeiros têm mantido escolas que estavam a fechar

Francisco realça que é ótimo que isto aconteça, até porque tem mantido e recuperado “escolas que estavam a fechar”. “Estamos com uma saúde demográfica diferente, mas ao mesmo tempo, para o professor, se tivermos o modelo de ensino tradicional, que é mais diretivo, como é que faz? O maior segmento de crescimento entre alunos imigrantes não fala português”, desenvolve.

“Tem de se arranjar modelos que permitam mais autonomia e em que os alunos estejam mais motivados e consigam beneficiar da diferenciação que necessitam. Esta abordagem consegue, de maneira muito mais eficaz, estes alunos”, defende. Os jogos da Class of Wonders permitem essa adaptação e o acompanhamento, com métricas ‘traduzidas’ para as competências essenciais, do desenvolvimento individual de cada estudante à medida que ele avança no jogo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pmcoelho@expresso.impresa.pt

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