Humor à Primeira Vista

Frederico Pombares: “Se te conseguires rir de ti mesmo é sinal de que estás resolvido”

Frederico Pombares é dos argumentistas e guionistas com melhor currículo em Portugal, ao ponto de não precisar de o mostrar a ninguém. Está sempre com ideias, seja para comédia, negócios e até apps. É autor de séries como “Último a Sair”, “Telerural”, “Esperança” e “Ferro Activo”. Dedicou-se mais recentemente a “Tabu”, na SIC, num formato que explora os temas “proibidos” da comédia. No podcast “Humor À Primeira Vista”, com Gustavo Carvalho, fala sobre a “espécie em vias de extinção” que é o argumentista de humor, das piadas passam da linha num programa que explora os limites do humor, e conta-nos o momento em que se “agarrou a uma cadeira” a rir com Bruno Nogueira

Não é a primeira vez que o fazes, mas não são assim tantos os casos em que aceitas pegar num formato estrangeiro e adaptá-lo.
Não é, isso já aconteceu algumas vezes, embora seja mais normal eu fazer coisas originais.

Exatamente. Porque é que fez sentido pegar no "Tabu"?
Por variadíssimas razões. Repara, até o Bruno Nogueira, que está habituado a fazer coisas originais, chegou ao "Tabu" e pensou: "Não, isto vale muito a pena fazer". É um formato que está à prova de bala, está completamente à prova de bala. Quando há humor negro normalmente o que acontece é dizerem: "Ah, está bem, eu queria é que fizessem à frente deles". Certo, foi o que aconteceu. "Estás a dizer isso porque ele não está cá". Está, estão mais não sei quantas pessoas, a família e os amigos. E aquilo é maravilhoso porque tem realmente esse balanço entre o lado mais documental e tem um lado de humor, que não deixa de ser negro.

Quando tu, o Bruno Nogueira e o Guilherme Fonseca escreveram o "Tabu" pensaram que estavam a fazer humor negro?
Não, nós sabemos porque temos as referências dos outros países. O formato é mesmo assim. Se não fosse humor negro, o programa ficava só bizarro. Ficava a componente documental e depois tinhas o Bruno a não fazer humor negro ali, a fazer humor mais popular ou o que queiras chamar. Desvirtuava totalmente o conceito do programa, que acho que é vencedor por causa disso.

Achas que argumentista é uma profissão em desuso?
Para humor, acho que sim. Por várias razões. Primeiro, porque toda a gente acha que consegue fazer humor. Se formos para o lado de drama já não há isso. Já há guionistas, tudo e mais alguma coisa, porque é diferente. No humor toda a gente acha que sabe fazer rir. [...] Acho que vai acabar porque hoje em dia qualquer pessoa abre um canal de YouTube e é humorista. Tal como com a música, há essa facilidade. Hoje em dia já não se sente muito a necessidade de recorrer a alguém para escrever. Podes dar a cara, fazer as tuas coisas, e está feito. É tudo muito fácil. [...] Hoje em dia é assim que as coisas acontecem. Não conheço ninguém, da malta nova, que diga: "Precisava aqui de um gajo a escrever comigo".

Achas que, apesar de tudo, não vai existir sempre esse espaço para guionistas e argumentistas?
Repara, nós já somos muito poucos. Quem é que hoje em dia com os recursos todos que tem - a poder fazer podcasts em casa, a poder abrir um canal de YouTube, Instagram, Facebook, tudo e mais alguma coisa -, qual é o miúdo que vai dizer, "Não, não, não. Só sei representar e gostava muito de ter alguém comigo a escrever as minhas piadas"?. Isto não vai acontecer, percebes? Se estiver enganado está aqui gravado o meu engano. Mas é o que tenho visto até agora e na realidade é o que faz sentido. É o que me faz sentido pela evolução das coisas.

Gustavo Carvalho faz perguntas sobre comédia. O convidado responde. Sorriem… é humor à primeira vista. Oiça aqui mais episódios:

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: humoraprimeiravista.podcast@gmail.com

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