Humor à Primeira Vista

Diogo Batáguas: “Fiquei triste pelos processos em tribunal não terem avançado”

É a fazer stand-up comedy de calções, a dizer o que lhe apetece, sem chefes e horários, que é feliz. Na busca incessante por textos novos, os processos judiciais impostos pelo juiz Neto de Moura e pelo músico David Carreira ajudaram a chegar a “Processo”, o seu terceiro espetáculo a solo, em que aborda os detalhes dessas diligências. Quando não está a preparar o “Relatório DB”, um dos conteúdos humorísticos mais vistos no YouTube em Portugal, sofre por antecipação com futuras atuações. Falta cerca de um mês para começar a nova tour, um pouco mais para subir ao palco Coliseu de Lisboa, e já anda a “dormir mal”

Alguma parte de ti até gostava de ter ido a tribunal?

Sim, mais ou menos. Porque os processos são muito tolos. Eu explico isso melhor em stand-up, no "Processo", portanto não quero estar a desvendar demasiado. E atenção, os processos não avançaram, mas não quer dizer que não existiram diligências jurídicas. O David Carreira meteu mesmo uma providência cautelar para retirar conteúdos com o nome dele do meu canal. Tentou lá umas macacadas que depois acabou por perder em primeira instância e não avançou com a parte da difamação, digamos assim. Mas não quer dizer que não tenha tentado. Tentou fazer a pressão que conseguiu para mandar abaixo as coisas que eu tinha dito sobre ele. No fundo, tentou usar o poder que tinha, financeiro ou jurídico, para impedir que eu gozasse com ele. O que não resulta, porque na melhor das hipóteses estás a dar-me mais armas. Não é nada pessoal, nem contra um nem contra outro. Muito menos contra o David Carreira, que só fez um disparate. Eu gozei com o disparate, o facto de ele se ter sentido ofendido dá ainda mais graça ao humor que eu fiz sobre aquela situação. Se fiquei triste com o facto de não ter avançado? Mais ou menos, porque aquilo em tribunal, a forma como ele teria eventualmente de se defender, seria muito mais engraçado do que ele simplesmente desistir...

Isso é muito o pensamento de humorista.

Claro. Para mim o primeiro pensamento do humorista é sempre: “Onde é que está o material? Isto dá stand-up ou não dá stand-up? Dá, então é bom”. Mas eu no espetáculo vou contar com alguns detalhes essa parte. O motivo em si, pelo qual ele me tentou silenciar através de processos jurídicos, tem graça.

João Pedro Morais

Ou seja, por um lado terias gostado de ir mais longe, ver o que saía dali, por outro também não dá muito jeito gastar dinheiro em advogados.

Não, mas compensava (risos). A graça compensa sempre. Não avançou, não avançou, mas eu arranjo maneira, não te preocupes.

Pelo que percebi sofres muito antes de subir a palco, mas devo dizer que não se nota nada. Pareces muito confiante em palco.

Epá, o artista é um fingidor, já dizia o outro (risos). Eu sou das pessoas que mais sofre antes de subir a palco. Já atuei com todas as pessoas do meio, e a única pessoa que fica pior que eu é Pedro Durão. Gosto muito de atuar com ele porque faz-me sentir confortável antes de subirmos a palco. Se eu estou a derreter de nervos, de tensão, de desconforto, ele já é uma poça. Eu rio-me porque ele fica pior do que eu e isso ajuda-me. Gosto do Pedro ainda mais por causa disso.

Mas tens essa noção de que em palco nota-se muito pouco?

Tenho porque me dizem. Acaba por ser um treino não propositado. A primeira vez que fiz stand-up, com 27 anos, dormi mal duas semanas para atuar cinco minutos para doze pessoas, no Teatro da Malaposta. E passei mal, antes de entrar em palco ia vomitando várias vezes.

João Pedro Morais

Já não é tão grave assim?

Agora só é assim tão grave muito pontualmente. É sempre grave ainda. Já estou tenso para a tour e falta um mês. Estou muito tenso, já ando a dormir mal. Quando se aproximar, meu deus. Depois há momentos de tensão extra, fundamentalmente três. Quando vou testar material novo, bem pode ser para quinze pessoas ou para mil - é igual. As primeiras vezes que faço material novo são sempre muito tensas. Faz-me mal à saúde, é uma coisa que não é fixe. Depois são as estreias de espetáculos a solo, mesmo que o texto já esteja mais ou menos. As estreias dos meus dois solos foram dos piores dias da minha vida. E espetáculos com alguma dimensão específica, que imagino que vá acontecer no Coliseu, por exemplo.

Se tens esses medos todos, quando é que percebeste que: "Eu se calhar até faço isto bem, até compensa estar aqui a sofrer um bocado"?

Isto é sempre um joguinho entre a tua vontade e o teu medo. Durante muitos anos o medo de ir a palco superava largamente a vontade que eu tinha de experimentar stand-up e talvez por isso só tenha experimentado fazer aos 27 anos. Já és adulto, não és um puto que está só a tentar. Estás quase nos 30. Começas a ver que as decisões que tomares agora vão determinar em larga escala a tua vida. Na altura trabalhava em rádio. Quando estava na faculdade tinha esse objetivo, mas o mundo da rádio acabou por desiludir-me um bocado, estava a ser enfadonho. Não estava excitado com o meu emprego e com a minha vida. Então começou a equilibrar-se nos pratos da balança o "Bora lá experimentar" face ao "Estou todo borrado".

João Pedro Morais

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: gcarvalho@impresa.pt

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