Podcast Humor À Primeira Vista #9 Guilherme Duarte feat. Bo Burnham
Diretamente da Buraca para o mundo, Guilherme Duarte cresceu e tornou-se engenheiro informático, mas foi na comédia que encontrou aquilo de que gosta. Do seu blogue, “Por Falar Noutra Coisa”, até ao primeiro espetáculo de stand-up a solo; do podcast “Sem Barbas na Língua” e da rubrica na Antena 3, até à série de skecthes “Falta de Chá”, já fez de tudo um pouco no mundo do humor. Atirou-se este ano para o seu segundo solo de stand-up, “Só de Passagem”, que após esgotar várias salas terá algumas datas extra em novembro
Humor À Primeira Vista é um podcast sobre comédia feito em parceria com a rádio da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS FM). O estudante de jornalismo e grande fã de stand-up Gustavo Carvalho convida humoristas portugueses para falarem sobre os seus mestres e referências no mundo do Humor. Há paixões comuns. Há palavras em inglês. Há decisões difíceis. Há uma boa probabilidade de ambos serem demasiado viciados no tema e de que a conversa se estenda para além do suposto. Há perguntas sobre comédia. Há respostas. Sorriem... Podia ser amor, mas é Humor À Primeira Vista.
Assinar o Humor À Primeira Vista no iTunes: https://apple.co/2VrWgIo Assinar o Humor À Primeira Vista no Soundcloud: https://bit.ly/2JICRRj Se usar Android, basta pesquisar Humor À Primeira Vista na sua aplicação de podcast
No teu primeiro espetáculo a solo abordas muito o facto de teres nascido e vivido na Buraca, neste novo espetáculo tens algum receio de falar sobre esse tópico? Porque podes ficar com a marca de “o gajo que só faz piadas sobre ser da Buraca”.
Não é receio – não vou falar deles! Acho que já disse tudo o que tinha a dizer sobre isso. Posso puxar o assunto de vez em quando, mas não está previsto. Continuará a ser muito sobre mim e as minhas experiências, coisas em que penso, histórias pelas quais passei… é capaz de ter um bocadinho de Damaia e de Buraca lá no meio, histórias que aconteceram lá, mas não se vai centrar nisso. E de engenharia informática não vou falar também!
Vai ter mais storytelling, então?
Um misto. Vai ter duas ou três histórias num registo mais de storytelling, mas outras parte não. Por exemplo, “não querer ter filhos” vai ser uma grande vertente do espetáculo. Vou explicar porque é que não quero ter, contar algumas histórias que me aconteceram quando era mais novo e depois há temas assim um bocado mais… morte, religião (risos) os meus temas fetiche.
Hoje vamos falar sobre Bo Burnham, e uma das coisas em que reparei ao ver o teu primeiro espetáculo a solo é que existia ali alguma inspiração nos espetáculos do Bo Burnham, nomeadamente na parte da produção, estou certo?
Sim, se não tivesse visto um Bo Burnham a fazer o espetáculo dele se calhar nunca tinha tido a coragem de incluir momentos diferentes, que fogem ao stand-up tradicional. Se virmos o Tim Minchin, por exemplo, também tem momentos musicais, o Neal Brennan tem a parte do storytelling e das one-liners. Mas sim, o Bo Burnham foi de certeza uma influência. Foi a primeira vez que vi um gajo fazer coisas muito diferentes no stand-up e isso deu-me coragem para pensar “espera lá que isto se calhar dá para arriscar e fazer coisas novas”.
Dentro de novos projetos que estão a surgir, fazes a curadoria do Maxime Comedy Club. Noites de stand-up comedy quinzenais, em Lisboa. Disseste que a ideia é deixar de revelar quem são os comediantes que vão atuar…
Sim, a ideia é essa. Já se tentou fazer cá, mas é muito o que se faz lá fora. Há uma noite de comédia que as pessoas vão ver, não interessa se é o comediante A, B ou C. Com a curadoria as pessoas sabem que vão ver coisas boas. É normal que vejam atuações a que não achem assim tanta piada, mas há uma qualidade mínima assegurada. Vão ver comédia! Eu lembro-me de ouvir o Rafinha Bastos (comediante brasileiro) dizer que em Portugal existe um movimento de comédia ligado a comediantes. Alguns comediantes levam muito público atrás, mas a comédia em si não leva. Isso seria bom para toda a gente: para o público, porque vai conhecer pessoas de que nunca ouviu falar; e para os comediantes, porque não se têm de preocupar tanto com a promoção e podem ir testar texto novo de uma forma mais descomprometida. Será que é possível? Será que há público em Portugal, neste caso em Lisboa, para fazer isso? Não sei, é um teste. A primeira noite correu muito bem; a segunda noite já está a vender e não temos cartaz – é um bom prenúncio, mas é o início. A longo prazo é que vamos perceber se se consegue manter isto.
Sim, e inclusive surgiram agora algumas noites de comédia em Lisboa e muitos espetáculos a solo de stand-up de vários comediantes. Tens receio da competitividade? Pode acontecer o público, tendo em conta as suas finanças, decidir ir ver um comediante e não o outro.
Sim, acho que pode acontecer - e vai acontecer em muitos casos. Mas o bom que traz supera o que pode prejudicar. O que vai acontecer mais é pessoas que nunca viram comédia ao vivo decidirem ir ver um espetáculo ou dois e pensarem “isto é giro”. Depois decidem ver o que é que há mais e vão ver um comediante que nem conhecem muito bem. Vai ser mais este o caso, acho eu, do que as pessoas que querem ver todos os espetáculos só que não têm dinheiro e são forçadas a escolher. Aliás, uns têm um público mais novo, outros mais velho, outros mais urbano; outros têm um humor mais familiar, outros não – há público para todos. O mercado não está saturado e isso vê-se no online.