Diários Migrantes

“Diários Migrantes”: a retornada que regressou a um país de onde nunca tinha partido

Filomena Vilares Martins falava português, ia à escola em português, mas era angolana. A mãe era angolana, a política era angolana, o clima, os amigos, a liberdade era angolana. O pai, como era português, foi aconselhado a fugir pela África do Sul. Filomena, a mãe e os irmãos esperavam o regresso do homem que tinha sido sempre o heroi da família, mas a vida teve de continuar e continuou, numa pequena aldeia do distrito de Viseu. Já no Brasil, o pai começou a tentar reuní-los de novo

“Diários Migrantes”: a retornada que regressou a um país de onde nunca tinha partido

Ana França

Jornalista da secção Internacional

“Diários Migrantes”: a retornada que regressou a um país de onde nunca tinha partido

Salomé Rita

Sonoplasta

“Diários Migrantes”: a retornada que regressou a um país de onde nunca tinha partido

João Carlos Santos

Fotojornalista

“Diários Migrantes”: a retornada que regressou a um país de onde nunca tinha partido

Tiago Pereira Santos

Coordenador de Arte Digital e Vídeo

Filomena era uma criança quando o Revolução de Abril acelerou os processos de independências das colónias africanas. Para ela, o mundo era a cidade de Novo Redondo, agora Sumbe. Subir às árvores deixou de ser possível, agora quem lá se empoleirava eram militares de fações que Filomena não entendia.

O pai não conseguiu fugir com o resto da família para Luanda, de onde deveriam viajar de avião para Portugal. Um amigo angolano da família avisou-o que as milícias tinham o nome dele numa lista negra e Joaquim lá foi, pelo deserto da Namíbia até à África do Sul.

Filomena e os irmãos chegaram a Portugal, à aldeia da família do pai, gente que não conheciam e que não pareciam estar assim tão felizes de os receber. Mas as pessoas foram tão boas para eles que hoje, 50 anos passados, Filomena, que prometeu que não ia chorar ao contar a sua história, chorou ao enumerar tudo o que as pessoas lhes deram para que conseguissem reconstruir a vida.

Este testemunho, tal como os que contámos nos episódios anteriores, foi recolhido pelo projeto Diários de Migrantes, da Arquivo dos Diários, uma associação sem fins lucrativos que visa preservar memórias autobiográficas de todos os que desejem escrevê-las. A iniciativa foi financiada pelo Fundo Social Europeu e pelo Portugal2020. Quem estiver interessado pode saber mais na página do projeto, que continua a aceitar biografias e diários em texto, mas também em vídeo ou desenho.

As passagens do diário de Filomena são lidas pela jornalista Marta Gonçalves, o guião, a adaptação dos diários e as entrevistas são da jornalista Ana França e a sonoplastia da série é de Salomé Rita. As capas que ilustram cada episódio é de João Carlos Santos e Tiago Pereira Santos. A coordenação é de Joana Beleza e a direção de João Vieira Pereira

Kiran, Usman, Salima, Willy e Filomena: cinco diários contam as vidas em trânsito de cinco pessoas que o destino trouxe até Portugal. Aqui ouvimos uma adaptação das páginas que elas escreveram, sobre o seu passado e a experiência migratória, e que a associação 'Arquivo dos Diários' partilhou com o Expresso. Ouça e subscreva em qualquer plataforma de podcasts:

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: afranca@impresa.pt

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