Na apresentação do Orçamento do Estado, o ministro de Estado e das Finanças vincou várias vezes a palavra "responsabilidade". Disse mais: que tendo em conta a provável mudança na política monetária do BCE (que pode passar a comprar menos dívida pública dos Estados-membros), seria necessário reforçar a "prudência". Foi um aviso aos partidos com quem terá de conversar no Parlamento se quiser viabilizar o Orçamento.
O tom foi veemente: "o Orçamento de 2022 é "absolutamente crítico e decisivo. Não seria compreensível” um chumbo na Assembleia, disse João Leão, recusando-se a responder sobre se seria preferível ficar com o país em duodécimos a ter um Orçamento desvirtuado. Não respondeu diretamente, mas reforçou: "Todos os Portugueses exigem sentido de responsabilidade na forma como aprovamos o OE. Com sentido de responsabilidade que não ponha em causa o nosso futuro. Sem passos maiores do que a perna."
O facto é que esta proposta incorpora muitas medidas que António Costa tinha no seu programa eleitoral, acrescentando algumas novas bandeiras socialistas - sobretudo de combate à pobreza infantil. Mas faz poucas cedências, para já, ao PCP ou BE - e mesmo aquelas que faz são insuficientes, tendo em conta o que se ouviu nas últimas semanas de Jerónimo de Sousa e Catarina Martins. Leão destacou três: as mexidas no IRS, os apoios à infância e o aumento de pensões, que "vão ao encontro das preocupações manifestadas". E pôs ainda a cereja do aumento da função pública acima da inflação dos últimos dois anos como moeda de troca negocial.
Mesmo assim, em alguns pontos do OE2022, João Leão manifestou alguma abertura para discutir: "Esta é a proposta que temos" e vamos "procurar entendimentos". Só que não detalhou em quais, nem sequer que margem terá para isso, desde os escalões à mudança da entrada em vigor do aumento de pensões. Vejamos o ponto de situação, ponto a ponto.
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