A reunião em São Bento durou menos de meia hora, mas a essa meia hora seguiram-se longas horas de reflexão noite dentro. Pedro Nuno Santos esteve reunido com o seu núcleo duro no Largo do Rato a acertar posições sobre a contra-proposta “irrecusável” que o Governo tinha acabado de fazer ao PS para viabilizar o Orçamento do Estado e a reação foi saindo a conta-gotas. Primeiro, era preciso “analisar”, disse Pedro Delgado Alves na SIC, depois era preciso limar arestas porque, apesar de o Governo ter cedido no modelo de IRS Jovem e adotado o de António Costa, era preciso ler as letras pequenas. Já passava da meia-noite quando Pedro Nuno Santos saiu e saiu a dar garantias de que continuava a bordo: “Queremos evitar eleições e queremos evitar um chumbo do orçamento, por isso daremos o nosso contributo”. No fim do dia, importava mais a ‘responsabilidade’ do que a ‘intransigência’.
Para isso é preciso resolver pelo menos um irritante: o desenho da medida do IRC, que continua a prever uma descida “transversal” e não “seletiva” do imposto, apesar de o Governo ter ido parcialmente ao encontro dos socialistas nas contrapartidas, prevendo incentivos fiscais às empresas que valorizem salários (ainda que em montantes diferentes do que o PS propunha) e redução das tributações autónomas, como os socialistas previam no seu programa eleitoral. O “esforço” do Governo tinha sido um “esforço sério de aproximação”, disse o ex-ministro das Finanças do PS Fernando Medina numa reação às 22h, no canal Now, que fugiu do guião que estava a ser cautelosamente preparado no Largo do Rato.
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