José Tolentino Mendonça

Ajuda-me a ver

Ajuda-me a ver! Penso que é isso que pedimos aos livros, à cultura, às histórias que ouvimos, aos amigos... e a Deus

Lembro-me de que, há uns anos, num encontro de narratologia, ouvi um conferencista explicar que a forma simples de sensibilizar o leitor, para o complexo jogo de referentes que uma narrativa põe em ato, era pedir-lhe que contasse, por palavras dele, um relato. Aí, o que parecia uma teoria intrincada (com o seu debate sobre pontos de vista, estatuto do narrador, trama, personagens...), tornava-se acessível de um modo muito direto. Este professor ensinava Novo Testamento numa grande universidade norte-americana, mas mantinha uma presença frequente em faculdades de países africanos. E citava o que acontecia, por exemplo, quando estudantes das duas geografias recontavam um episódio clássico do evangelho de Lucas: a parábola do filho pródigo. Na identificação do motivo pelo qual o filho pródigo se vê precipitado da confortável situação de herdeiro à aspereza de um sem-teto, os norte-americanos apontavam o facto de haver dissipado o seu capital de maneira descontrolada, enquanto que os africanos colocavam em primeiro lugar a devastadora fome que se abateu sobre a região. Tinham ambos sustentação textual, pois o evangelho cita os dois motivos. O que é curioso, porém, é compreender o significado daquilo que nos faz nem nos apercebermos de umas coisas e ver imediatamente outras.

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