A sociedade está cheia de Berardos, de seres que existem porque os autorizamos com o nosso sarcasmo, a nossa indiferença e a nossa cumplicidade
Podemos rir-nos. Ou indignar-nos. Estas são as duas respostas normais ao fenómeno Berardo. Respondemos com um gracejo, uma anedota típica da urbe, ou com um esbracejo de raiva. E queremos matar o Berardo, e os políticos, e os amigos deles. E somos de direita porque odiamos a esquerda e somos de esquerda porque odiamos a direita. E afundamo-nos no desespero passivo ou na falta de esperança que fazem de Portugal um país com elevado nível de depressão diagnosticada e um consumidor de sedativos e antidepressivos. Um país sem produtividade, entregue a intervalos de feriado e fim de semana. Um país onde a consciência de classe ou de comunidade se dissolve no shopping, no futebol e no consumo maciço de televisão, que está ligada todo o dia nos cafés e restaurantes e dentro das cabeças. Um país onde o ressentimento causa a drenagem da ambição.
Portugal é um país desigual, miserável nos salários e não criador de riqueza suficiente para gerar independência ou sustentabilidade de sistemas sociais generosos e caros. Portugal é um país onde só existe um tema, o Estado, e a intervenção do Estado. Quando a existência depende totalmente de instituições públicas, alguma coisa está errada. A dependência é o resultado da falta de controlo que os portugueses têm sobre a sua vida e o seu trabalho. Uma amostra suficiente do mundo laboral em Portugal revelará a insatisfação e a mediocridade, sobretudo nas legiões de funcionários públicos, uma burocracia gerada para nos administrar e onde reina um descontentamento que nenhuma verba ou remuneração pode aplacar. Daí a falsa questão do descongelamento do tempo dos professores e a crise que evidenciou a ausência de inteligência política.
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