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E agora, Pedro Nuno? Costa fica só com os delfins, mas no PS abre-se outra etapa

E agora, Pedro Nuno? Costa fica só com os delfins, mas no PS abre-se outra etapa

Foram seis meses duros para Pedro Nuno Santos, que sai do Governo com o peso de um “caso sério” sobre o aeroporto e de uma demissão por causa da TAP. O ministro que sempre assumiu a ambição de ser primeiro-ministro cai, mas pode ficar no Parlamento. E livre para o PS. Costa tem agora quatro anos pela frente sem o seu único crítico interno, mas pode ter pela frente um PS dividido. É que a influência do ‘pedronunismo’ não acabou com a demissão. E há congresso previsto para 2023

E agora, Pedro Nuno? Costa fica só com os delfins, mas no PS abre-se outra etapa

David Dinis

Director-adjunto

O país conheceu-o todo com uma declaração bombástica que aterrou nas televisões, ainda no tempo de Passos Coelho, no final de 2011: Pedro Nuno Santos era, então, vice-presidente da bancada do PS e disse isto, num jantar de Natal do PS em Castelo de Paiva (Aveiro): “Estou marimbando-me para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram. Estou marimbando-me que nos chamem irresponsáveis. Nós temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e dos franceses. Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida” e se o fizermos “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”.

O seu discurso inflamado perante um público socialista obrigou o PS (na altura liderado por António José Seguro) a justificar-se, procurando minimizar o impacto. Mas a vergonha da equipa de Seguro nunca foi sentida pelo jovem turco - a expressão com que, nos tempos dos blogues, ele e a sua geração mais próxima de jovens socialistas acabaram conhecidos. Pedro Nuno tem uma característica conhecida no meio político: não lhe falta auto-estima. E uma segunda também: foi sempre pela esquerda que se quis impor, de nome próprio, no PS. Naqueles tempos, muito PS clamava mais fogo contra o Governo de Passos e a troika. Pedro Nuno tinha feito isso e haveria de capitalizar depois.

Para trás tinha ficado uma rápida ascensão entre os socialistas. Natural de São João da Madeira, distrito de Aveiro, Pedro Nuno Santos (agora com 44 anos), licenciou-se em Economia pelo ISEG, uma universidade muito acarinhada pela esquerda, na qual foi presidente da Mesa da RGA. Entrou na JS aos 14 anos e, entre 2004 a 2008, foi o seu líder, empenhado na legalização da Interrupção Voluntária da Gravidez e, depois, na consagração em lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Estávamos aqui nos tempos de José Sócrates, que foi quando Pedro Nuno entrou no parlamento, em 2005, tendo sido deputado na X e na XII legislaturas. Não era deputado naqueles dois anos em que o Governo minoritário de Sócrates conduziria o país para um pedido de resgate - aí Pedro Nuno tinha feito um breve intervalo para ajudar na gestão da Tecmacal, na capital do calçado, ao lado da irmã e do pai, que lhe valeria recentemente acusações de incompatibilidades. Mas voltaria depois, para a oposição a Passos e Portas.

Nesses anos, Pedro Nuno começou a fazer um caminho. Com gosto pelas lides do aparelho, posicionou-se para a liderança da poderosa federação distrital de Aveiro, distrito onde acabaria por ser eleito autarca. Desde cedo, desde a liderança da JS, assumiu sempre um posicionamento claro: o de que o PS teria de governar à esquerda, sem complexos de diálogo com os partidos do mesmo lado do hemiciclo. A polémica que as suas declarações no jantar socialista foi só uma parte desse percurso: “Nós vivemos uma crise existencial na Europa. Não tempos de falinhas mansas. (...) Não me arrependo do que disse porque o que disse é o que eu quero continuar a dizer", chegou a justificar na TSF.

Falinhas mansas é, de facto, característica que Pedro Nuno não tem. Tanto que foi ele e o seu ‘exército’ político que deram o primeiro passo para a saída de Seguro da liderança. E fizeram-no com um pedido expresso a António Costa para que avançasse. Costa, então na Câmara de Lisboa, acabaria por recuar. Ainda era cedo. Mas quando desafiou Seguro mais tarde, em 2014, foi Pedro Nuno outra vez quem ajudou a alavancar o aparelho, levando-o à vitória.

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