Tardou mas chegou. Ao fim de 21 debates presidenciais, a principal conclusão podia ser apenas que Marcelo Rebelo de Sousa ganhou quatro duelos aos pontos e dois por KO - contra André Ventura e Ana Gomes -, e que agora resta o veredito final e previsível dos eleitores a 24 de janeiro. Errado. Apesar de todas as outras análises que se possam fazer - se Marcelo foi devidamente escrutinado e se está a dizer-nos o que fará no futuro, o que significará Ana Gomes no dia seguinte à votação, ou que consequências terá na governação a concorrência à esquerda - o “caso Ventura” é o case study destes duelos e desta campanha. O populismo iliberal demorou a chegar mas está aí - e a democracia tem de saber lidar com ele, porque vai durar. Estas eleições tornaram-se no laboratório para ensaiar a realidade dos próximos anos.
Daqui sairá um benchmark, a medida certa ou aproximada para definir estratégias: todos os políticos serão obrigados a rever e estudar os debates com André Ventura, porque são reveladores de como atacar, defender ou reagir. Como já tínhamos visto com Biden/Trump ou Macron/Le Pen, a dificuldade é manter os moderados moderados e evitar que caiam nas armadilhas do extremismo que tenta extremar - para depois acusar os outros de extremismo à esquerda, de centrismo em nome dos interesses ou de direita “travestida”. Como vimos ao longo da semana, um dos efeitos da presença de um tóxico a envenenar adversários é obrigá-los ao confronto no mesmo terreno: a diferença é que os populistas são como as baratas que se alimentam do veneno, fatal para os políticos convencionais que o colocarem na mesa.
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