O debate deu um empate (surpreendente, porventura enganador)
Há quatro anos foi fácil avaliar. No primeiro frente a frente, António Costa venceu. No segundo, Passos Coelho ganhou. Desta vez não foi bem assim
Há quatro anos foi fácil avaliar. No primeiro frente a frente, António Costa venceu. No segundo, Passos Coelho ganhou. Desta vez não foi bem assim
Diretor-adjunto
No seu primeiro debate com António Costa, Rui Rio entrou com uma enorme vantagem (isso, uma vantagem): a expectativa. Era tão baixa que o que aconteceu durante aquela hora de televisão acabou por ajudá-lo. Rui Rio entrou solto, sorriu, foi à luta, levou frases prontas e foi igual a ele próprio - sincero, pode dizer-se assim. No fim do debate, era evidente que Rui Rio não tinha sido esmagado. E, até, que talvez tivesse conseguido empatar com António Costa.
A verdade é que António Costa não jogou ao ataque. A tática foi ir ao contragolpe, ou seja, responder a Rui Rio quando este tentou atacar.
Foi assim, por exemplo, quando o líder do PSD usou o ponto de exclamação dizendo que “há um momento em que é preciso dizer basta! Parou!” - para recuperar a velha bandeira da direita de baixar o peso do Estado. E Costa respondeu que “para o PSD é uma questão de fé: baixa-se impostos, melhora-se os serviços, reduz-se também a dívida”.
Foi assim, também, quando Rui Rio prometeu baixar drasticamente os impostos, levando o atual primeiro-ministro a responder assim: “O dr. Rui Rio propõe um choque fiscal, como aquele que prometeu Durão Barroso. Já sabemos que acaba sempre num grande aumento de impostos”, como o de Passos Coelho.
Eis, portanto, as táticas: Rui Rio mais ao ataque (precisava). António Costa mais à defesa.
Foi assim logo no primeiro minuto, talvez onde o líder do PSD foi mais eficaz, explicando por que não atribui a Costa grande mérito no que conseguiu fazer: foi a economia, foram os dividendos (do Banco de Portugal), foram os juros. O problema de Rui Rio não foi na demonstração do que podia ter corrido melhor. Foi na incapacidade de mostrar que podia fazer melhor. Voltando à habitual gíria desportiva: atacou, mas faltou marcar. Lembra-se de algum momento em que António Costa parecesse encostado às cordas?
Rui Rio não conseguiu isso, desde logo, porque falhou alguns remates. Como o que levava preparado sobre a emigração, dizendo que emigraram 330 mil pessoas nesta legislatura - deixando Costa lembrar que o saldo migratório já é positivo, admitindo depois que os números que citava eram “provisórios e estimativas”, para 2018 e 2019. Pois, mas 2019 ainda nem acabou e estimativas não se conhecem.
Mas Rui Rio também não conseguiu o remate que daria vitória porque contemporizou demasiadas vezes: ao admitir que o PS “por uma vez, pôs as contas certas”; ao reduzir a mudança que propõe na Saúde ao problema da sua gestão; ao terminar uma discussão sobre a carga fiscal reconhecendo a António Costa que as receitas da segurança social também contam para esse cálculo - prejudicando o argumento de que este Governo tinha sido uma espécie de cobrador do fraque.
Claro que tudo isto são detalhes, provavelmente invisíveis aos milhões que seguiram o debate desta segunda-feira. E, sim, é verdade que o líder do PSD foi igual a si próprio: contemporizar com o adversário, assim como mostrar vontade de consensos, é muitas vezes um trunfo na vida política. Rui Rio transmite honestidade. Mas não alternativa - o que podia bem ser o elemento decisivo para convencer um eleitor mais à direita.
Acontece que António Costa também esteve longe dos seus melhores dias. Já lhe disse aqui que, ao contrário do que fez com Catarina Martins, não quis jogar ao ataque (naquele outro debate, foi o socialista quem começou por pôr em causa o programa do PS, aqui não o fez). Mas não só se enredou muitas vezes em números e mais números (um clássico do primeiro-ministro, mas que num debate televisivo de uma hora se torna fastidioso), como pareceu demasiado confortável na sua ideia-chave para esta campanha de que ‘basta assim’, não é preciso fazer muito mais.
Há uma linha ténue que separa a ideia de estabilidade e prudência (que Costa queria passar hoje para o eleitor do centro/centro-direita) e a ideia de estagnação. Se António Costa quer lutar por uma maioria absoluta, talvez tenha perdido aqui uma oportunidade de mostrar que a merece. Sorte a sua: Rui Rio também não fez questão de explicar por que razão ele não a deve ter.
Vai daí, deu empate. Só que o empate pode ser enganador. É que neste debate, ao contrário do que acontecia em 2015, não estava já em causa o voto dos potenciais eleitores do centro-esquerda (a avaliar pelas sondagens esses não vão mesmo votar em Rui Rio). O que podia estar em causa era a capacidade de Rui Rio mobilizar os votos dos que, há quatro anos, votaram Passos e acabaram com Costa no Governo. Rui Rio tinha uma oportunidade de ouro - e não a agarrou. A grande incógnita, neste caso, é a de saber se um empate lhe chega para recuperar terreno - e evitar os números que vemos hoje nas sondagens.
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