Não me parece ser vantajoso substituir o BE pelo Chega como terceiro partido. Mas se o Parlamento fizer o que os partidos que lá têm representação prometeram (um cordão sanitário), os 12 deputados eleitos pelo partido de André Ventura não poderão fazer grande coisa. Aliás, pressinto que em breve eles se desentenderão… Bastou-me ver de relance os congressos daquele partido.
De resto, a maioria absoluta socialista retira importância a todos os restantes partidos no Parlamento. Isto, em teoria, porque tanto os parlamentares socialistas como o Governo podem fazer o que acharem melhor. E se o que acharem melhor for manter (como disseram tantas vezes na campanha) as contas certas, será um bom começo. Depois, há outra tarefa que Costa e alguns dos seus mais próximos aliados têm de fazer: libertar uma parte do PS dos ‘complexos de esquerda’. É que já nem há paciência.
Todos os portugueses conhecem bem o PS e esta votação não significa que só reconheçam virtudes. Obviamente, também conhecem os defeitos, e são muitos. As histórias de Cabrita, de Constança Urbano de Sousa, das nomeações do procurador europeu não foram esquecidas; apenas foram relativizadas em função de outras propostas que agradariam menos ao eleitorado. Mas se, até agora, o PS contava com o silêncio cúmplice da sua esquerda, a partir desta eleição vai tê-la à perna. Aliás a CGTP já anunciou que prepara grandes jornadas de luta.
Uma maioria absoluta é, ainda assim, um acontecimento relativamente raro na nossa democracia. Tivemos 12 anos e teremos mais quatro, o que fará 16, ao fim de 52 anos passados sobre o 25 de Abril. Seria, pois, excelente que, com este quadro partidário e este magnânimo resultado, o PS aproveitasse para efetuar algumas reformas que sabe serem necessárias. Claro que não me refiro aquelas (e algumas eram boas) propostas feitas pelo PSD ou pela IL; mas pode-se aproveitar para esquecer ou mesmo reverter algumas forçadas pela esquerdalhada que assolou o Governo.
Porque a responsabilidade de António Costa não é só para com o país neste momento e nos anos subsequentes. Tem de pensar em que Partido Socialista quer deixar. O dos moderados sociais-democratas com forte pendor social, sempre abertos à negociação e à tolerância; ou o dos esquerdistas que constantemente pretendem afrontar o resto do mundo como se a razão fosse algo que tivesse apenas caído nas suas iluminadas cabeças? Numa palavra, quer um PS mais Siza Vieira, Fernando Medina, Santos Silva, José Luís Carneiro e muitos outros; ou um PS João Galamba, Isabel Moreira, Pedro Nuno Santos e apoiantes?
Esta questão, a guerra ou guerrilha interna vai, para já, apaziguar-se. Neste momento, são todos ‘costistas’, não só no partido como praticamente no país todo. Mas António Costa, mais cedo ou mais tarde, tirará as consequências do facto de se ter esgotado o período em que precisou daqueles esquerdistas que acabaram por tentar colocá-lo entre a espada e a parede.
O centro político, incluindo a IL nessa amálgama (a IL é radical nalguns tópicos, mas é de uma radicalidade central, no sentido que, como o PS tradicional e o PSD, é antirrevolucionária), o centro, dizia, tem de novo uma imensa maioria. É bom que ninguém se esqueça desse ‘pormenor’. E se neste momento ele cai para o PS, há de cair para outros, porque em democracia pode governar-se muito tempo, mas nunca para sempre.
O caminho é em direção ao centro, embora centro-esquerda, naturalmente; a reafirmação das ideias europeias, das contas certas, das reformas necessárias, do ambiente mais favorável às empresas e aos negócios, acredito que comece a ser feito. Nesse sentido, estas eleições, fechando com estrondo a porta na cara do PSD, cavaram um fosso com a CDU e o BE e marcam um regresso à normalidade.
Que o PS não estrague essa normalidade com os disparates do costume, e que o PSD não se radicalize como se os socialistas fossem Nicolás Maduro lusitanos, é o mais que podemos pedir.
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