Opinião

O sol pode brilhar ainda mais para as Comunidades de Energia

O sol pode brilhar ainda mais para as Comunidades de Energia

Pedro Antão Alves

CEO da Cleanwatts

Mais celeridade, menos burocracia. A ideia é simples e tantas vezes repetida, neste e noutros setores

O verão acabou e o sol continua a brilhar no Sul da Europa. No entanto, as Comunidades de Energia ainda não conseguem transformar todo esse sol, toda essa energia, em benefícios para as pessoas e para as empresas. E isso deve-se ao período ainda muito longo para obter o licenciamento, conforme previsto na legislação desde 2022.

Os mais recentes dados da BloombergNEF (BNEF), publicados no Renewable Energy Investment Tracker e referentes ao primeiro semestre de 2025, dão conta de um investimento global recorde de 386 mil milhões de dólares em novos projetos de energia renovável, ou seja, um aumento de 10% em relação ao ano anterior.

Olhando mais a fundo, vemos que os gastos com os projetos de energia solar de pequena escala compensaram a queda no financiamento de projetos de maior dimensão. A justificar esta tendência está, em certa medida, a vantagem competitiva dos primeiros, que são de rápida implementação e podem ser colocados em operação antes de mudanças políticas significativas que impactem receitas ou retornos.

No caso da energia fotovoltaica descentralizada, em que se inclui o modelo das Comunidades de Energia, estamos perante uma solução comprovada que proporciona um custo de energia mais económico, com emissões de carbono nulas associadas à sua produção.

Além disso, oferece uma maior autonomia energética e resiliência face a oscilações de preços nos mercados, permitido que os membros usufruam de tarifas mais previsíveis e menos dependentes de fatores exógenos. Por último, promovem a coesão social e a dinamização do papel ativo de vários intervenientes a nível local na transição energética, envolvendo particulares, municípios e empresas.

Em Portugal, as Comunidades de Energia têm maior concentração industrial e empresarial, mas também se verifica uma forte adesão em contexto residencial e de coletividades. Seria bom pensar como reforçar a implementação deste modelo, com tantos benefícios, mas persiste um desafio chamado licenciamento.

Os atrasos são reais e têm impacto direto no fornecimento de energia aos membros e na falta de previsibilidade para investidores que custeiam as centrais fotovoltaicas. Ambos os fatores contribuem para o aumento dos preços aos consumidores finais.

Mais celeridade, menos burocracia. A ideia é simples e tantas vezes repetida, neste e noutros setores. Mas vale a pena insistir e, objetivamente, contribuir com soluções práticas, entre todos os interessados – promotores, operadores, entidades licenciadoras, tutela e demais responsáveis.

O processo de licenciamento deverá ser mais célere e automatizado, permitindo investir tempo e recursos em tecnologia para aperfeiçoar o modelo das Comunidades de Energia, gerando impacto onde este é verdadeiramente relevante.

Por exemplo, no desenvolvimento de algoritmos de inteligência artificial que permitem criá-las e geri-las, otimizando o equilíbrio entre a oferta e a procura dos membros. Paralelamente, reforçar a instalação e operação de soluções integradas com baterias e carregadores de veículos elétricos que permitem baixar os custos de transporte e aumentar a resiliência da rede de distribuição elétrica.

O verão acabou e o sol continua a brilhar no Sul da Europa. Para o turismo e para a agricultura.

Mas, para tornar a economia portuguesa mais sustentável, é necessário que brilhe também para a energia, motor da competitividade e reindustrialização. E, em concreto, as Comunidades de Energia? Têm tudo para brilhar ainda mais.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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