Vivemos na era da inteligência artificial e o seu ritmo de avanço é vertiginoso. Enquanto assistimos à criação de cada vez mais cursos dedicados à Ciência de Dados ou Engenharia de IA, é crucial questionarmos: estará a nossa academia a conseguir acompanhar esta corrida? E, mais importante, quem tem a responsabilidade de formar a próxima geração de profissionais?
É inegável que as universidades e os politécnicos têm um papel central no desenvolvimento de formação base, dos fundamentos teóricos e da investigação que, de alguma forma, sustentam todo o avanço da IA. É aqui que os futuros profissionais adquirem uma base sólida em áreas relevantes que estão intrinsecamente ligadas à IA, como a matemática, estatística e programação.
No entanto, o desafio é enorme. A velocidade a que a IA evolui é incrivelmente rápida: o que era state of the art ontem, pode ser obsoleto amanhã. Isto coloca uma pressão enorme sobre os currículos académicos, que precisam de ser mais ágeis para incorporar as últimas ferramentas, técnicas e princípios éticos que devem guiar o desenvolvimento da IA. Não basta ensinar a programar modelos, é preciso ensinar a pensar criticamente sobre as implicações sociais, económicas e morais de cada linha de código. E aqui chegamos a um ponto essencial: a formação em IA não pode ser apenas para os especialistas. Um gestor de projeto que compreenda o potencial e as limitações de um sistema de IA, um profissional de marketing que saiba como usar ferramentas de IA de forma ética ou um líder que consiga identificar oportunidades de transformação digital através da IA, são tão valiosos quanto o engenheiro que constrói o algoritmo.
Precisamos de uma sociedade com "fluência em IA", capaz de questionar, de discernir informação e de se adaptar a um mundo cada vez mais automatizado. O pensamento crítico é a ferramenta para nos guiar neste mar de informação e inovação. Sem ele, corremos o risco de sermos meros consumidores passivos de tecnologia, em vez de criadores e inovadores.
Este cenário salienta a importância de adotar uma mentalidade de crescimento e renovação de competências e, por consequência, leva-nos à formação contínua. A ideia de que aprendemos tudo o que precisamos na faculdade e que isso nos vai durar uma carreira inteira é, hoje, uma miragem, se é que alguma vez foi assim. Na área da IA, essa miragem desvanece-se ainda mais rápido. Os profissionais de hoje e de amanhã precisam de atualização e aprendizagem permanente e a uma velocidade mais acelerada.
Isso significa que a responsabilidade não pode recair apenas sobre as instituições de ensino. As empresas, têm de investir de forma constante na requalificação (reskilling) e na melhoria de competências (upskilling) dos seus talentos. Academias, bootcamps intensivos, certificações específicas e programas de mentoria são fundamentais; é uma parceria entre o indivíduo, a academia e a indústria. Só assim garantimos que existem no nosso país os profissionais de que precisamos para nos mantermos competitivos num panorama global dominado pela IA.
Se a IA é o futuro, temos todos a responsabilidade de ensiná-la. As universidades dão os alicerces, mas a indústria precisa de construir sobre “eles” com formação contínua, promovendo a literacia digital e, acima de tudo, cultivando o pensamento crítico a todos os níveis da organização. Só assim formaremos o talento, não só para construir a IA, mas também para a entender, a usar de forma responsável e a tirar o máximo partido do seu potencial transformador.
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