Opinião

A literacia em saúde salva vidas

A literacia em saúde salva vidas

João Eurico Cabral da Fonseca

Diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

Assinala-se esta segunda-feira o Dia Internacional da Literacia. O tema merece uma reflexão assinada pelo diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Uma cronica em torno de inclusão, justiça social e desenvolvimento sustentável e da importância de “promover a literacia na era digital”

A literacia, nas mais diversas áreas, é sem dúvida uma ferramenta de inclusão, justiça social e desenvolvimento sustentável. Os sucessivos e constantes avanços que a digitalização provocou nas sociedades reforçam a urgência de pensar o papel da literacia num mundo marcado pela transformação tecnológica.

Uma vertente da literacia que tem um enorme impacto no bem-estar do indivíduo e de toda a comunidade é a literacia em saúde. Se, por um lado, o acesso à informação nunca foi tão vasto e imediato, por outro, a abundância de dados e a velocidade com que circulam levantam novos riscos. Todos nós estamos expostos a conteúdos de fiabilidade duvidosa e somos confrontados com a necessidade de distinguir entre conhecimento validado cientificamente e desinformação potencialmente nociva.

Para uma literacia em saúde de qualidade na era digital é fundamental que as instituições de saúde e a academia assumam um papel ativo na produção e difusão de conhecimento rigoroso, acessível e inclusivo. Adicionalmente, deve ser promovida a equidade no acesso à informação e o treino específico de profissionais de saúde para comunicar de forma clara, eficaz e humanizada.

É fundamental, também, que os profissionais de saúde reconheçam que os indivíduos portadores de uma doença irão naturalmente procurar ativamente informação sobre a sua situação de saúde, sendo crítico que estejam capazes de reagir positivamente a isso e que saibam argumentar empaticamente e sempre no melhor interesse do doente. Reúnem-se assim as condições mínimas para capacitar os cidadãos para interpretar criticamente a informação a que têm acesso.

As ferramentas digitais podem aproximar o conhecimento médico dos cidadãos, mas para que isso tenha de facto um impacto positivo na saúde e no bem-estar, o processo tem de ser acompanhado por estratégias pedagógicas sólidas e por uma aposta decidida na educação ao longo da vida. O investimento em literacia em saúde é um investimento em cidadania e autonomia, com impacto potencial positivo nos indicadores de qualidade de vida da população.

A literacia em saúde é um mecanismo estratégico de medicina preventiva e contributivo para uma melhor utilização dos cuidados de saúde. Adicionalmente, em emergências ou catástrofes, a literacia em saúde pode mesmo salvar vidas: nos primeiros minutos críticos, antes da chegada da ajuda especializada, é a comunidade que reage e presta socorro.

Ao celebrarmos este Dia Internacional da Literacia, reafirmamos que literacia é muito mais do que saber ler e escrever: é compreender, questionar e agir de forma informada. Na saúde, traduz-se em escolhas conscientes, melhor prevenção e maior adesão a cuidados adequados.

Na era digital, é um imperativo ético e social que exige compromisso coletivo. Cabe-nos, como instituições académicas e comunidade, promover esse caminho com responsabilidade e visão de futuro.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

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