Havia uma faceta loud em Cobain. A vida doméstica, o desajuste social, o espírito pós-punk. Mas sempre me impressionou o seu lado quiet
Houve o grito, o berro, o urro, o frenesi, mas também a pausa, a respiração, o suspiro. Às vezes penso em Kurt Cobain como uma fúria vinda do nada, de um território longínquo e desconhecido, um miúdo de cabelo pelos ombros que no meio do barulho bradava aos céus coisas astutas (“here we are now, entertain us”), enigmáticas (“a mulato, an albino, a mosquito, my libido”) ou um pouco assustadoras (“a denial, a denial, a denial”). Mas os Nirvana descendiam dos Pixies e das canções loud-quiet-loud. E havia em todos eles, e em Cobain especialmente, um gosto dividido entre o ruído e a melodia. “Bleach” (1989), que só ouvi depois de “Nevermind”, tinha ruído em barda, distorção, agressão, mas também um diamante da tradição beatlemaníaca como ‘About a Girl’. E no segundo álbum houve grandes tensões entre a banda, o produtor e a editora acerca do som que o disco devia ter: abrasivo, como o dos concertos, ou polido, trabalhado em estúdio, fácil de ficar no ouvido.
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