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Opinião

Calisto

Para quem não se lembra, Sócrates foi tratado como um querubim; era a criatura incensada e mandatada para transformar a pátria

Há duas maneiras de olhar para José Sócrates. A primeira garante síncopes cardíacas, urticárias súbitas, combinações infinitas de palavrões e, além disso, não é um desporto muito aconselhado para mesas, porcelanas e bibelôs à nossa volta; pratos voam, santinhas caem, mesas empenam. A segunda garante risadas, combinações infinitas de piadas e digamos que é um desporto mais seguro para os objetos inanimados à nossa beira. Passados tantos anos, a segunda via é a única alternativa: há que rir do homem que foi dono disto tudo; há que dobrar o riso na cara das pessoas que o protegeram e continuam a proteger. E há dias reencontrei o modelo cómico perfeito para encaixarmos a criatura; o “template” como ele diria na sua retórica de aldeão deslumbrado com os dialetos pseudomodernos da cidade. Sócrates, meus senhores, é o Calisto Eloi do romance “A Queda dum Anjo” de Camilo Castelo Branco. Está lá tudo. É como se Camilo tivesse ressuscitado para fazer a biópsia deste polichinelo que continua a ter acesso a amigos de fábula e ao cofre mágico da mãe: o cofre que gera euros em 2025 a partir do volfrâmio de 1945.

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