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Opinião

À voz do dono

Sim, a Europa deve tratar da sua própria defesa face a ameaças reais, e não imaginárias, e deixar de contar com os Estados Unidos. Mas sobretudo pelas razões hoje óbvias: porque os Estados Unidos deixaram de ser confiáveis. À sua frente está um narciso doentio e um inimigo da Europa

“Donald, tu conduziste-nos a um momento mesmo importante para a América, a Europa e o mundo. Tu conseguiste o que mais nenhum outro líder conseguiu na história da NATO: a Europa vai passar a pagar À GRANDE, como devia. Não foi fácil, mas todos assinaram o compromisso dos 5% do PIB com a Defesa.” Esta frase ficará para a história, lembrem-se dela por muitos anos, pois que ela resume na perfeição o papel de cãozinho do dono que tem sido o de Mark Rutte, o infeliz secretário-geral da NATO. O neerlandês não é, por si mesmo, membro da NATO, mas apenas o coordenador de vontades e o construtor de consensos entre os 32 membros da organização. Porém, desde o primeiro dia, e certamente também temente pelo futuro do seu cargo, ele fala como se mandasse em todos e a todos pudesse impor livremente a vontade do dono, o seu tão admirado Donald J. Trump — esse tão confiável Presidente americano, que poucas horas antes da cimeira de quarta-feira voltou a pôr em causa o cumprimento do artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte, o próprio fundamento da NATO: um por todos, todos por um. Já sabíamos que Rutte é um serventuário de Trump, ainda mais que o seu antecessor, Stoltenberg. Mas escrevê-lo assim, com estes requintes de subserviência e dando já por decidido o que só no dia seguinte se iria discutir, é suficiente para concluir que o homem não está à altura do cargo. Se houvesse alguma réstia de dignidade e orgulho próprio entre os dirigentes ocidentais de hoje, o ponto nº 1 da ordem de trabalhos da Cimeira da NATO em Haia teria sido a destituição do seu secretário-geral. Porque, infelizmente para eles e para o próprio, o amigo Donald, além de tudo o mais, é um tipo ordinário, sem maneiras e doente de vaidade própria. E assim aquilo que Rutte enviou como uma mensagem pessoal e privada foi tornada imediatamente pública por Trump na sua rede social, obrigando todos os restantes 31 membros da NATO a assobiarem para o ar e a sentarem-se à mesa como se nada de grave se tivesse passado, para abanarem a cabeça à voz do dono americano e baterem palmas ao discurso do secretário-geral que os enxovalhara. Assim vai o Ocidente.

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