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Opinião

Um dia perfeito

Em breve chegará Julho e depois Agosto. As multidões apressadas, as filas nos supermercados, os restaurantes sem lugar, a Festa do Pontal do PSD, a Festa da Sardinha de Portimão e do Marisco de Olhão, a Fatacil, os motociclistas de Faro e o peixe esgotado na banca do mercado às 11 da manhã. Mas no resto do ano, existe outro Algarve, que é uma extraordinária hipótese de felicidade

Quando acordei, ainda a lua cheia, que me tinha feito companhia na noite anterior, não tinha desaparecido por completo a leste. Mas a nascente, o sol já tinha subido sobre um céu límpido e havia um silêncio expectante, um instante suspenso na manhã nascente, que só alguns pássaros madrugadores interrompiam. Tudo indiciava uma manhã de um dia de Verão, ainda não intenso e esmagador, apenas quente e suave. Lá fora, porém, o sol despertara todas as incríveis cores das buganvílias do jardim: roxo, lilás, vermelho exuberante. Ou as menos evidentes, mas minhas preferidas: branco, amarelo, laranja tímido. E, nos canteiros, o roxo azulado das espigas das lavandas apelava para o mesmo roxo das flores dos jacarandás, gritando a sua breve exuberância antes de se apagarem por mais um ano. Lá ao fundo, onde talvez comece o Mediterrâneo, num mar escandalosamente azul, uma linha negra no horizonte informava-me que uma armação de atum dos japoneses se dedicava a pescar os seus sashimis: cada um trata do que é seu e, se não trata, outros se ocuparão do que era seu. Mas foi para isto, para ver nascer assim estas manhãs, que vim viver para aqui, já faz uns anos. E nesta manhã de Junho, estremunhado e feliz, pus-me ao caminho.

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