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Opinião

Terra de “muladis”, e já não é de hoje

É simplesmente impossível pensar Portugal, desde antes de ser Portugal até hoje, sem refletir, aprofundar e valorizar o tema da mistura

Os árabes tinham uma palavra, muwallad, cujo plural é muladis, significando originalmente “descendentes” e depois “misturados”, que usavam para os filhos de casais de árabes e não árabes, muçulmanos e cristãs (ou vice-versa; e também judeus, convertidos ou não). Ao chegarem à Península Ibérica, que era já ela própria uma sociedade muito misturada, passaram a aplicar o termo a cidades ou a populações inteiras. A estes dois sentidos acrescentou-se ainda um terceiro, o das conversões de visigodos ou outros “bárbaros do Norte”, que, quando passavam a ser muçulmanos, eram também chamados “muladis”. Tudo junto, mais o facto de haver cristãos que se vestiam como muçulmanos e que tinham uma liturgia própria e a quem chamavam “moçárabes” (em cidades como Al Usbuna, a que chamamos hoje Lisboa, seriam a maioria), mais o facto de haver quem continuasse a falar língua latina em toda a península, mas escrita com letras árabes ou misturada com palavras árabes (hoje, alguns especialistas chamam-lhe o “romance andaluz” e acreditam que se misturou com os falares do Norte, como o galego, integrando na nossa língua portuguesa palavras como “azeitona”), mais a própria paisagem humana de ruas, bairros, aldeias e cidades, fez com que a conclusão se apresentasse fácil: nós, para eles, éramos “muladis”. Misturados.

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