Se ter uma língua é ter uma pátria, viver entre línguas é ter dupla cidadania simbólica. Muitas vezes é um privilégio; pode ser uma fuga; não raro, cria uma tensão permanente
A pátria de Pessoa era a língua portuguesa — diz o nosso orgulho nacional. Já o próprio nunca pareceu assim tão seguro disso: chegou a dizer que o inglês da infância lhe saía com mais perfeição. Era a sua voz clara, racional, descomplicada. O português, língua das emoções, partiu-se em heterónimos, como se Pessoa precisasse de se fazer em pedaços para caber nela. Como tantos bilingues, não teve uma pátria — teve duas. Talvez seja também por isso que viveu dividido, como um ser híbrido que se formou entre duas culturas.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt
Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate