O encosto fácil à rede espanhola e sucessivos Governos que só pensavam no CO2 e nas renováveis intermitentes deixaram o país totalmente impreparado!
Vejamos a rede espanhola no momento do apagão. Tinha só 17,5% de potência controlável (hídrica, nuclear e centrais a gás) face à potência total em funcionamento (32 GW) e nela avultava a fotovoltaica, com 18,3 GW (57% do total). A grande componente de eólica e fotovoltaica não assegurava nem potência controlável nem inércia mecânica, esta é fornecida pelos geradores clássicos, grandes massas girantes, autênticos volantes de inércia, rodando a uma velocidade constante que é igual à frequência da corrente alternada que geram (no nosso caso, 50 HZ). É essa inércia que permite amortecer oscilações de frequência resultantes de desajustes entre a produção e o consumo. Nas ilhas, por não estarem ligadas a uma grande rede, estes problemas são conhecidos e são tratados com: renováveis intermitentes a funcionarem abaixo da potência máxima para poderem responder em caso de necessidade; inércia sintética fornecida pela eletrónica de potência às eólicas e fotovoltaicas, emulando a inércia mecânica; compensadores síncronos, máquinas girantes rodando em sincronia com a rede, que não fornecem energia mas fornecem inércia mecânica e a chamada energia reativa para regular a tensão. Nada disto tínhamos na rede ibérica. Mas as duas redes, portuguesa e espanhola, passaram após o apagão a ser geridas de forma mais prudente, com a eólica e a fotovoltaica a funcionarem abaixo da potência máxima, com menor recurso às capacidades da interligação e maior uso da hídrica, das centrais a gás e da nuclear (no caso espanhol). Isto mostra quão pertinentes são estas reflexões!
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