O carneirismo não implica a ambição de seguir um líder específico (Cavaco Silva, no caso do cavaquismo). O carneirismo é a manifestação da vontade de, simplesmente, seguir
Quando Hugo Carneiro sugeriu que as autoridades vasculhassem os telemóveis de deputados e jornalistas, em busca do autor da fuga de informação que revelou a lista dos clientes da Spinumviva, a comunicação social descreveu-o como “deputado do PSD”, o que me pareceu incorrecto. É sabido que o PSD sempre teve várias alas internas (os barrosistas, os cavaquistas, os santanistas), mas Hugo Carneiro inaugura uma nova modalidade: não protagoniza bem uma tendência do PSD, mas de um seu subsidiário, o PStasiD. Ao contrário, por exemplo, do cavaquismo, o carneirismo não implica a ambição de seguir um líder específico (Cavaco Silva, no caso do cavaquismo). O carneirismo é a manifestação da vontade de, simplesmente, seguir. É seguidismo — seja de quem for, e seja qual for o resultado. Por exemplo, quando sugeriu que o deputado responsável pela fuga de informação fosse punido com a perda de mandato, Hugo Carneiro não deu importância ao facto de esse deputado, independentemente de quem possa ser, na prática já não ter mandato, visto que o Parlamento está dissolvido. Trata-se de propor que o prevaricador seja punido com a perda de algo que já não possui, que é uma pena de difícil execução. Do mesmo modo, quando acusou a comunicação social de alimentar a desinformação ao publicar um documento oficial, Hugo Carneiro admitiu que a publicação de documentos oficiais desinforma, o que só pode significar que a lista entregue por Montenegro é falsa.
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