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Opinião

Quantos pássaros viste?

Um dia, Bergoglio disse-nos que não nos queria adormecidos, porque “a vida dos cristãos adormecidos É triste”

Há 60 anos precisos, um professor de literatura do Colégio Imaculada em Santa Fé, na Argentina, pediu a Jorge Luis Borges que fizesse um prefácio para um livro de contos escritos pelos seus alunos. Borges já tinha declarado, num dos breves contos de “O Fazedor”, que “ao outro, a Borges, é que acontecem as coisas”. É esse um magnífico conto no qual o autor declara a sua rendição aos relógios de areia, aos mapas ou à tipografia do século XVIII. Já ele, Borges, caminha por Buenos Aires, demorando-se na contemplação do arco de um saguão ou de uma cancela. Borges garante não ter a certeza de qual dos dois escreve aquela página de “O Fazedor”. Um dos dois, Borges, ele mesmo, ou o outro, aquele “a quem acontecem as coisas”, aceitou, entretanto, com entusiasmo o convite do professor Bergoglio e enviou-lhe um prefácio no qual declarava que aquele livro, escrito por jovens estudantes, transcendia o seu propósito pedagógico, alcançando, “intimamente, a literatura”. Passados cinco anos, Bergoglio, o outro, aquele que fazia acontecer as coisas, estava em Alcalá de Henares com os jesuítas que o escolheriam para provincial na Argentina, três décadas antes de João Paulo II o ter feito cardeal.

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