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Opinião

Francisco, o melhor de todos, todos, todos

Nenhum dos políticos que agora se desfazem em elogios e mensagens de pesar vai sequer atrever-se a repetir a sua mensagem, quanto mais acatá-la

Eu nunca lhe tinha visto a cara nem ouvido o nome, e tão-pouco, porque poucas eram as esperanças, seguira com entusiasmo o conclave que iria escolher o sucessor de Bento XVI. Mas quando Jorge Bergoglio, já paramentado de branco e já feito Papa Francisco, apareceu na varanda do Vaticano e disse aquela frase linda — “foram buscar-me ao fim do mundo” — percebi logo que este Papa tinha vindo para marcar a Cristandade e o mundo, e a mim também. A frase é ainda mais bonita em italiano, porque da sua musicalidade ressalta toda a espontaneidade e humildade com que um homem acabado de ser feito guia religioso de 1300 milhões de almas recebia o seu fardo: “Me hanno scelto dalla fine del mondo”. Agora, que assistimos ao desfile de todos os fariseus diante da sua morte — os grandes, os médios e os pequenos que se imaginam grandes do mundo — todos querendo partilhar connosco a sua experiência pessoal com o Papa, as palavras privadas que ele lhes dirigiu, as fotografias que fez com eles e as suas mulheres, agora, que post-mortem, querem roubar Francisco aos “todos” a que ele queria chegar, percebo melhor ainda que o Papa de Buenos Aires e do San Lorenzo de Almagro foi dos seres humanos públicos mais extraordinários com quem me foi dado partilhar o meu tempo, junto com muito poucos mais: Nelson Mandela, Willy Brandt, Olof Palme. E, forçando um pouco de proximidade e patriotismo, talvez também Mário Soares, o mais santo dos pecadores, e António Guterres, o mais ingénuo dos santos.

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