William James, irmão de Henry James, escreveu um ensaio sobre as “variedades da experiência religiosa”. O título resume a ideia de que a religião é acima de tudo uma “experiência”
Lembrei-me de William James porque descobri um artigo dele sobre um sismo que atingiu a Califórnia em 1906. Professor em Harvard, o filósofo estava então a dar aulas na Universidade de Stanford. Um amigo tinha-lhe dito que, além dessa “instituição da Califórnia”, ele ia em breve conhecer outra: os tremores de terra. E assim aconteceu: na madrugada de 18 de Abril, às 5h30 da manhã, James sentiu a cama a mexer-se, tudo o que estava em cima dos móveis a cair, o quarto a tremer, as paredes com fendas, uma espécie de rugido, 48 segundos envoltos em emoção: “A emoção consistiu exclusivamente em deleite e admiração; deleite com o modo vívido como uma palavra ou ideia abstracta como ‘terramoto’ se manifestava na realidade sensível e verificável; e admiração por ver a pequena e frágil casa de madeira suportar tal abalo.” Como é costume, toda a gente atribuiu uma “intenção” àquele terramoto, uma “maldade”, uma vontade “destrutiva”, um poder “demoníaco”. James conseguiu ser mais específico e mais original: chamou-lhe “o terramoto de B.”, o seu amigo, uma “entidade individual permanente”, e um acontecimento “dirigido a mim”.
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